MARIA FULÔ
Elias Tavares Cordeiro
Maria fora abandonada ainda criança na Fazenda Três Bocas, no agreste de Alagoas. Pelo falatório da vizinhança, a mãe dela morreu num acidente de caminhão, quando foi pagar uma promessa em Juazeiro do Norte, que fizera com o Padre Cícero Romão Batista, vulgo “Pade Ciço.” O pai não tendo como criá-la, deixou-a jogada ao”Deus-dará.”
Criada na Fazenda junto dos trabalhadores, sem estudar, ajudava na cozinha para fazer o-de-comer, e lavava roupa na beira do rio. Começou despertar interesse aos homens. Aos dezesseis anos os botões dos seios desenvolveram-se e ficaram firmes, bonitos e o seu corpo tomou forma de mulher adulta.
Sempre que Maria ia lavar roupas, um magote de desocupados iam pescar, tomar banho, para ficar apreciando o seu corpo semi-molhado, acoplado num vestido justo de chita. As suas pernas roliças despertavam também muito interesse na rapaziada.
O filho mais velho do fazendeiro, Deodato Mariano, descobriu a beleza dela e ficou atrás das moitas lhe brechando, não demorou muito para ele se apaixonar e ficar de miolo mole, remoendo um dengoso rabicho por ela. Um certo dia, ele tomou umas lapadas de aguardente de cabeça, mais ou menos umas dez horas da noite, foi até o quarto da Maria. A tramela da porta estava aberta, ele entrou de mansinho, acordou ela e começou fungar em seu cangote, em seguida desbotou o seu vestido e o acontecido aconteceu tal qual o zunido da boca do povo.
A Maria estava de alma leve, despregada do mundo, quando o Deodato baixou as mãos e lhe alisou de baixo pra cima e de cima pra baixo, ela revirou os olhos e adejou no vôo descompassado do prazer. Agarrou-o forte e naquele momento, perdeu a sua virgindade.
Dois meses depois foi expulsa da Fazenda Três Bocas, pela patroa, que flagrou ela dormindo com o filho. Maria foi se refugiar num cabaré chamado Areia Branca em Maceió. Logo despertou interesse dos freqüentadores. Comprou roupas se enfeitou e virou mulher-dama de um e de outro, entregava-se a quem desse mais. Ficou conhecida pela beleza e tinha a preferência de homens importantes, todos falavam dos seus encantos, até que um dia apaixonou-se por um viajante de Pernambuco chamado Edmundo Jurubeba , trocaram beijos e promessas de amor e resolveu ir embora com o forasteiro. Ninguém mais teve notícia..
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O tempo não parou nas curvas e vinte anos depois, um caminhoneiro de Maceió deu notícia dela. Atualmente ela está no interior de Pernambuco, madura com as feições contraídas e gorda. Tem uma casa de recurso, arrebanha as quenguinhas novas para o seu frege. Há dez anos, ela deixou de ser “mulher-dama.”
Quando estava amancebada com Edmundo, morando na fazenda dele, levou um coice de um burro brabo e caiu desmaiada. A dona Quitéria que cuidou dela por último, disse:
- A Maria Quenga? Ah!Ah!... Conheço demais, ela não serve mais para homem nenhum, quando levou o coice do burro, foi atingida mesmo no meio da”fulô,” nunca desinchou, coitada, não teve médico nem panacéia de botica que desse jeito, banhos de arueira, sebo de carneiro capado, samba-caitá, baba-timão e nem mesmo o palavreado milagreiro das rezadeiras fez desinchar o cacho de fulô da Maria, ficou sem serventia para profissão, cumprindo a sina que lhe foi reservada.