A moça do Meier
Eu sei que o nome da amiga dela é Beatriz e que o namorado dela – da Beatriz - é o Marcos. Os três são do Meier, Rio de Janeiro. Não gosto de me intrometer na vida dos outros e muito menos de ficar escutando conversa de estranhos sem ser convidado. Isso é muito feio. Acreditem, porém, não foi culpa minha. As circunstâncias foram especiais.
Estou lá, sentado, esperando pela minha vez de ser atendido. Juntos, mais dois senhores, um jovem, uma senhora e uma moça de seus 19 nos. Todos americanos, com certeza, exceto pela última, que provavelmente era uma hispana, como se diz por aqui. Ninguém estava conversando, certamente estranhos entre si. De repente um celular toca e eu ouço aquele “alô” bem brasileiro. A hispana não era hispana, era uma brasileira. Logo de início percebi que ia ser uma conversa problemática. Senti uma vaga obrigação ética de avisá-la que eu, ao contrário dos demais na sala, sabia falar português. Por outro lado, não tinha direito de me intrometer, situação difícil.
Para a história não se estender muito, o rapaz do outro lado da linha, o Marcos, estava no Meier e sua namorada, a Beatriz – ou noiva – tinha vindo para os Estados Unidos junto com a moça do telefone que estava a meu lado. Tinham uma espécie de pacto, amor eterno, e iriam se encontrar novamente quando ela se ajeitasse aqui na Terra do Tio Sam. O problema é que o Marcos estava saindo com uma outra garota, também do Meier e, aparentemente da mesma igreja que os três frequentavam no Rio. Como a moça – vamos chamar de Maria, para ficar mais fácil – ficou sabendo disso, eu não sei. Não é difícil imaginar, porém, hoje em dia, com Facebook e outras redes sociais, que a notícia se espalhou. Ele acabou caindo na rede de informação da minha vizinha de sala de espera.
A Maria estava furiosa. Onde se viu trair a amiga assim? Safado, sem-vergonha! E tinha a cara de pau de ir orar na igreja? Agora a Beatriz estava desconfiada e queria voltar para o Brasil e ela, como amiga, teria de voltar junto. A certa altura o Marcos deve ter tentado falar alguma coisa. Imediatamente mandou o fulano calar a boca. Nesse momento até os americanos olharam para ela. Você é um desclassificado, você não é homem e assim por diante. No “assim por diante”, inclua-se um elogio à pobre genitora do Marcos, que obviamente nada tinha a ver com as ações do filho safado. Tenho certeza de que se soubesse que não estava em solitude linguística, não falaria tal coisa.
Ela usou pelo menos uma dúzia de adjetivos desclassificatórios para o traidor.
Eu não sei não, mas se eu fosse o Marcos, mudaria de igreja, faria um monte de orações e, por fora, ainda faria uma novena pedindo para a Maria e a Beatriz darem certo por aqui e não precisarem voltar para o Rio. Porque se elas voltarem, Marcos, eu não me responsabilizo por sua saúde. Eu avisei...
Quando fui sair, cheguei a pensar em dar apoio moral e falar algo como “Isso mesmo, não dá moleza para esse tal de Marcos”, mas com a experiência que a idade nos traz, achei mais prudente ficar quieto.
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