PRENHA COM A BARRIGA NO ESPICHO
Elias Tavares Cordeiro
A filha mais nova do fazendeiro Zé Tributino, homem teimoso e valente do Sertão alagoano, andava de chumbrego com o Enéas Bacurau. – Logo com quem?
– Com a Carlinha, a menina dos olhos do fazendeiro, morena bonita, formosa, cintura de pilão, cabelos castanhos escuro, olhos pretos como duas jabuticabas brilhando. Parecia até que fora feita num torno. Tinha somente dezessete anos. Quando passava se requebrando com os peito empinados, olhando pro céu, a rapaziada ficava de olhar de bico doce, babando-se ao vê-la descontraída.
Não demorou muito tempo para dona Mercês, mãe zelosa ficar de orelha em pé assuntando com as carolas da igreja o comportamento da filha.
Um dia a beata Lourdinha, puxou-a pelo braço e num recanto da sacristia lhe confidenciou no reservado de pé-de-orelha:
- Olhe dona Mercês, eu não gosto de me intrometer na vida alheia, mas corre um zumzum por aqui, que a Carlinha está saindo mais cedo da escola e encontrando-se com Enéas Bacurau, para fazer o que não presta, atrás das moitas no caminho de sua casa. Dona Mercês entrouxou o rosto, fez um muxoxo e disse:
- Não me diga uma desgraça dessa, se o pai dela souber disso vai arrancar-lhe o couro. – Esse cabra também é muito folgado, já vi ele tirando cheta e soltando goga para ela, vou ter que tomar algumas providências.
Dali em diante dona Mercês botou marcação cerrada, não contou nadinha de nada ao seu marido Zé Tributino, acompanhava a filha para a escola e no fim de semana, só deixava ela sair de casa para assistir a missa do padre Nicanor, religioso desses que carregam cordão bento amarrado na cintura e que tem a cucuruta da cabeça raspada. Lá ela se confessava, a mando da mãe.
A partir de então, ninguém mais viu Carlinha e Enéas Bacurau juntos.
Os dias correram frouxo no pino do tempo. E carlinha que passara alguns dias tristes, ultimamente andava rindo atoa. – Mas Deus do céu se descuidou e o Demo atentou, quando é um dia, ela começou enjoar as comidas e não demorou, a barriga começou crescer. A mãe desconfiou , puxou ela pela orelha e disse:
- O que significa essa barriga crescendo minha filha?
- Não significa nada mãe, estou comendo mais e engordei.
- Deixe de mentira cabrita safada, eu sou macaca velha, você já está prenha com a barriga no espicho.
- prenha?...Tô não minha mãe, é impressão da senhora.
- Então é obra do Divino Epírito Santo? – Vou falar pra seu pai.
- Pelo amor de Deus minha mãe, não faça isso, eu vou contar pra senhora timtim por timtim. A doma Mercês começou a chorar e exigiu que ela dissesse a verdade verdadeira.
Carlinha, com os olhos cheios de lágrimas, tremendo, da cor duma vela, olhou para mãe e disse:
- Aconteceu lá na torre da igreja minha mãe, na hora da missa eu ficava com as minhas amigas da escola e escapulia delas e subia as escadas da torre, lá em cima eu me encontrava com Enéas Bacuraru. Quando eu chegava, ele já estava lá me esperando.
- E como foi isso?
- Eu tenho vergonha de lhe dizer minha mãe, mas foi um descuido, quando eu dei fé, senti um quenturão tomar conta do meu corpo e vi o Enéas revirar os olhos, pronto só sei contar isso.
- Pouca vergonha!...
- E você não tem medo não, de ir para o inferno, fazendo safadeza na igreja?
-Não mãe, porque quando eu descia, procurava o padre Nicanor para me confessar.
- Então ele sabe de tudo?
- Sabe sim, mas não sabe o lugar que a gente ficava.
- Tenha vergonha, vou entregar você pra seu pai. Naquele instante apareceu na porta o seu Zé Tributino, com uma correia de coro cru na mão.
- Pode deixar Mercês, eu ouvi o fim da conversa, agora vai ser comigo. O velho deu duas chicotadas nas canelas de Carlinha, que ficou um vergão avermelhado na pele.
- Me diga quem foi o sujeito que emprenhou você? – Em prantos ela envergonhada, baixou a cabeça e disse:
- Foi o Enéas Bacurau.
- Ah!.. Eu logo vi, há muito ele anda por essas bandas, mas tem uma coisa, ele vai ter quer casar com você. Disse e puxou-a pelo braço até a casa do pai do Enéas Bacurau.
- Seu Jeremias, eu sou um homem respeitado ao redor de vinte léguas desse sertão e o seu filho aproveitou-se da inocência dessa minha cabrita e a deixou bulida, sem honra, embuchada, ele tem duas saídas, casa com ela ou vai morar nas terras de pés-juntos, lá no cemitério. O velho Jeremias olhou para um lado e para o outro e disse:
- Seu Zé Tributino, reconheço a sua aflição, Logo vi que alguma coisa tava acontecendo, todo domingo o Enéas saia daqui avexado, agoniado como uma cobra quando perde a peçonha. Estou velho com a carcaça da idade mais pra lá do que pra cá, mas sempre fui um homem de vergonha. – Vamos juntar os panos de bundas dos dois e fazer logo esse casamento.
Elias Tavares Cordeiro
A filha mais nova do fazendeiro Zé Tributino, homem teimoso e valente do Sertão alagoano, andava de chumbrego com o Enéas Bacurau. – Logo com quem?
– Com a Carlinha, a menina dos olhos do fazendeiro, morena bonita, formosa, cintura de pilão, cabelos castanhos escuro, olhos pretos como duas jabuticabas brilhando. Parecia até que fora feita num torno. Tinha somente dezessete anos. Quando passava se requebrando com os peito empinados, olhando pro céu, a rapaziada ficava de olhar de bico doce, babando-se ao vê-la descontraída.
Não demorou muito tempo para dona Mercês, mãe zelosa ficar de orelha em pé assuntando com as carolas da igreja o comportamento da filha.
Um dia a beata Lourdinha, puxou-a pelo braço e num recanto da sacristia lhe confidenciou no reservado de pé-de-orelha:
- Olhe dona Mercês, eu não gosto de me intrometer na vida alheia, mas corre um zumzum por aqui, que a Carlinha está saindo mais cedo da escola e encontrando-se com Enéas Bacurau, para fazer o que não presta, atrás das moitas no caminho de sua casa. Dona Mercês entrouxou o rosto, fez um muxoxo e disse:
- Não me diga uma desgraça dessa, se o pai dela souber disso vai arrancar-lhe o couro. – Esse cabra também é muito folgado, já vi ele tirando cheta e soltando goga para ela, vou ter que tomar algumas providências.
Dali em diante dona Mercês botou marcação cerrada, não contou nadinha de nada ao seu marido Zé Tributino, acompanhava a filha para a escola e no fim de semana, só deixava ela sair de casa para assistir a missa do padre Nicanor, religioso desses que carregam cordão bento amarrado na cintura e que tem a cucuruta da cabeça raspada. Lá ela se confessava, a mando da mãe.
A partir de então, ninguém mais viu Carlinha e Enéas Bacurau juntos.
Os dias correram frouxo no pino do tempo. E carlinha que passara alguns dias tristes, ultimamente andava rindo atoa. – Mas Deus do céu se descuidou e o Demo atentou, quando é um dia, ela começou enjoar as comidas e não demorou, a barriga começou crescer. A mãe desconfiou , puxou ela pela orelha e disse:
- O que significa essa barriga crescendo minha filha?
- Não significa nada mãe, estou comendo mais e engordei.
- Deixe de mentira cabrita safada, eu sou macaca velha, você já está prenha com a barriga no espicho.
- prenha?...Tô não minha mãe, é impressão da senhora.
- Então é obra do Divino Epírito Santo? – Vou falar pra seu pai.
- Pelo amor de Deus minha mãe, não faça isso, eu vou contar pra senhora timtim por timtim. A doma Mercês começou a chorar e exigiu que ela dissesse a verdade verdadeira.
Carlinha, com os olhos cheios de lágrimas, tremendo, da cor duma vela, olhou para mãe e disse:
- Aconteceu lá na torre da igreja minha mãe, na hora da missa eu ficava com as minhas amigas da escola e escapulia delas e subia as escadas da torre, lá em cima eu me encontrava com Enéas Bacuraru. Quando eu chegava, ele já estava lá me esperando.
- E como foi isso?
- Eu tenho vergonha de lhe dizer minha mãe, mas foi um descuido, quando eu dei fé, senti um quenturão tomar conta do meu corpo e vi o Enéas revirar os olhos, pronto só sei contar isso.
- Pouca vergonha!...
- E você não tem medo não, de ir para o inferno, fazendo safadeza na igreja?
-Não mãe, porque quando eu descia, procurava o padre Nicanor para me confessar.
- Então ele sabe de tudo?
- Sabe sim, mas não sabe o lugar que a gente ficava.
- Tenha vergonha, vou entregar você pra seu pai. Naquele instante apareceu na porta o seu Zé Tributino, com uma correia de coro cru na mão.
- Pode deixar Mercês, eu ouvi o fim da conversa, agora vai ser comigo. O velho deu duas chicotadas nas canelas de Carlinha, que ficou um vergão avermelhado na pele.
- Me diga quem foi o sujeito que emprenhou você? – Em prantos ela envergonhada, baixou a cabeça e disse:
- Foi o Enéas Bacurau.
- Ah!.. Eu logo vi, há muito ele anda por essas bandas, mas tem uma coisa, ele vai ter quer casar com você. Disse e puxou-a pelo braço até a casa do pai do Enéas Bacurau.
- Seu Jeremias, eu sou um homem respeitado ao redor de vinte léguas desse sertão e o seu filho aproveitou-se da inocência dessa minha cabrita e a deixou bulida, sem honra, embuchada, ele tem duas saídas, casa com ela ou vai morar nas terras de pés-juntos, lá no cemitério. O velho Jeremias olhou para um lado e para o outro e disse:
- Seu Zé Tributino, reconheço a sua aflição, Logo vi que alguma coisa tava acontecendo, todo domingo o Enéas saia daqui avexado, agoniado como uma cobra quando perde a peçonha. Estou velho com a carcaça da idade mais pra lá do que pra cá, mas sempre fui um homem de vergonha. – Vamos juntar os panos de bundas dos dois e fazer logo esse casamento.