"É inevitável..." Eles disseram

Juramos que não seríamos mais um dos inúmeros grupos de amigos que se dispersaram. Se dissiparam. Que seguiram à diante levando consigo apenas as memórias. Não as amizades. Prometemos não deixar de se encontrar. De se falar. De conversar. Contar. Contar da vida, dos dias. Contar uns com os outros. Nós estávamos realmente dispostos a tentar, a insistir. Persistir. Mas nós nunca imaginamos que poderíamos ser magoados por quem nos ajudava, até então, a segurar esses laços. A não soltá-los. A mantê-los firmes. Foi o início do fim. A estrutura foi abalada e, assim como não conseguimos esquecer totalmente uma mágoa, não fazíamos ideia de como consertá-la. Ao menos tentamos fingir que estava tudo bem. E isso só abriu espaço para mais decepções.

Quase não havia mais chão para pisar. Cada vez alguém deixava de responder. Desistia de chamar. Pensava duas ou três vezes antes de puxar assunto, tendo a consciência de que a resposta seria o silêncio. Paramos de fazer questão. De se importar tanto assim. Passou um mês. Dois. Três. No quarto, mal lembrava. Acho que senti saudade... Mas do que, mesmo? Melhor deixar assim. Melhor não cutucar um ninho aparentemente já vazio. Melhor continuar seguindo. As fotos encontradas sem querer na galeria do celular trazem lembranças. Nostalgia. Culpa.

Eu queria poder insistir, não gosto de desistir. Só que não há mais ninguém para me ouvir. "A vida é assim mesmo, é inevitável..." Eles diziam. E nós falávamos que isso era uma desculpa para mascarar a falta de interesse. Quem diria, nós, cheios de razão, tendo que inventar nossas próprias desculpas esfarrapadas para tentar se justificar...

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Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 10/04/2017
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