O homem que não queria nada
Naum era uma dessas pessoas que já nascera cansado. Nos primeiros anos de vida deu mostras do quem seria em se tratando de nada fazer. Não quis o peito. Só mamava na mamadeira, e a mãe tinha que segurá-la pois ele descansava as mãos atrás da cabeça e cruzava os pezinhos como um paxá. Demorou a andar, lá para os dois anos. Falar mesmo só aos três. Antes só resmungava e apontava o que queria. Foi respondendo aos poucos. A mãe oferecia:
— Quer biscoito de nata, querido?
— Biscoito de nada?!
— De na-ta!
— Ah, não. Então não quero.
O pai tentava qualquer esporte para o filho. No judô ele só caía, no futebol nem para gandula o queriam. Tentou a natação. Naum gostava de boiar, não gostava de competir. Os pais torciam por ele mas não adiantava:
— Filho! Nada! Nada!
Mas ele, nada.
Na escola, não estudava:
— Isso não dá em nada – dizia.
Largou a faculdade de Filosofia, apesar de ter gostado de Nietzsche e de Taoísmo. Casou-se com Nadia, mas a deixou porque não tinham nada a ver, e foi viver como um eremita nas montanhas, no meio do nada.
Enquanto ele deitava em uma rede, a morte veio sem aviso:
— Naum, seu estrupício, sua hora chegou!
— De nada! – agradeceu. — Enfim, morrer é voltar ao nada! – suspirou.
— Nada disso, Naum! Existe um ciclo de reencarnações! – respondeu a morte.
Mas Naum era tão sossegado que terminou reencarnando como bicho-preguiça e sua vida não mudou em nada.