Recapitulando

 
     Corri até a janela e ela estava aberta, como eu sabia que era alta, fui olhar por ela e o leão pulou e me afastei o vendo cravar as unhas no parapeito de madeira, caiu no chão e eu fechei rápido a janela e a cortina preta que estava de um lado, ainda vi o vulto pular mais uma vez. Nestas alturas eu estava molhado de suor até os ossos, quando me virei dei de cara com...

                       DÍLSON E EU PARTE 07

     Pois é, dei de cara com o bisavô do Dílson que não sei se era o Drácula disfarçado, ou se era um pirata, do jeito que o Conde poeta me contou, ele podia ser qualquer coisa que quisesse, conhecia o mundo todo, viveu na África junto com os canibais, acostumado a caçar as feras mais perigosas que ousava enfrentá-lo e sabe-se lá se não participou até de guerras? Vai ver que sim.

     O malvado queria me matar de medo, abriu a capa preta e riu na maior altura, gente ele não tinha carne, eram apenas ossos, me apavorei mais ainda e começamos a fazer um dueto, seria até poético se não fosse tão trágico ele ria e batia cracracracrecrecre e eu comecei a bater meus dentes também, só que eu batia de medo e saía um som mais ou menos assim, cririririririririirir e ele cracracracrecrecre e eu criririririririririri aí eu apelei e parti pra cima dele e ele mudou o riso para uasuasuasuas e sumiu.

     Agarrei-me na porta do sanitário e fiquei esperando as pernas pararem de tremer, quando consegui, eu sai meio trôpego conseguindo vencer à distância até a cama onde me sentei e fique me lembrando da minha mãe, vontade de chorar e voltar a ser criança e só tinha de ter medo do tutu vai te pegar e o boi da cara preta... Agora eu estava ali sentindo aquele medo e pior, imaginando que isto era coisa de velhinhos desamparados que estava caducando e vendo coisas onde não tem nada.

     Olhei para o salão, a bicharada estava toda quietinha e só tive à impressão que um veadinho empalhado de olhos verdes brilhantes, piscou pra mim, pensei: besteira imaginação minha, onde já se viu veadinho piscar para velhos louros que ele nem conhece, quer saber o que eu vou fazer? Vou pegar minha lanterna de pesca que está ao meu alcance, apago as luzes e me deito, estando escuro eu não vejo nada e esta alucinação desaparece... Melhor cobrir a cabeça com o lençol e ficar quietinho, quem sabe eu durmo de novo. Assim pensei, assim fiz.

     Fiquei quietinho, e tentando ouvir algum barulho, nada nem um grilinho cantando, comecei a modorrar que é naquele instante que você escuta o próprio ronco já no limiar do sono te vencendo, foi aí que eu senti...


Melhor ir dormir, depois continuo.
 
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 07/03/2017
Código do texto: T5934014
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