As Façanhas do Zé Bornêta

Ali, pelas banda da Chapada do Bueno tem um lugá de nome Rochêdo. Pra todo lado cá gente oia é só montanha de pedra. Entre umas pedra e outras umas terra com prantação de capim pra alimenta as vacas...Pelo menos era assim, lá por vorta de 1969, quando passei ali pela estradinha, até chegá na casa dum tal Zé Bornêta... (não confunda o nome do sujeito, se não da confusão).

Eu, o meu pai e um primo, fomos de a pé e cheguemos lá, já bem de tarde. Fazia um fri dos diabo praquelas beiradas de floresta. Demos uma ida na bica, fizemos uma meia sola rapidin e vortemo pra comer uma canjiquinha com frango caipira, ali na beirada do fogão de lenha... Um tiquinho de prosa e fomos encostá a carcaça pra mode descansá um pouco, pra no dia seguinte pegá três animal, pra levar lá pra cidade...Era coisa de uns negóço que o vei meu pai tinha feito na catira!

Foi uma noite agunienta pra mode que as purgas num deixava a gen drumi direito... Rompeu o dia e lá pras quatro horas, meu pai acorda e vai com o Zé Bornêta pegá os animal lá no pasto...

Quando um pouco os dois parece correndo feito lôco e naquele rebuliço todo, eles pegaram as espigarda de carregá pela boca e cada um com facão... E foi a maió correria pro pasto afora. E de lá da cabana do Zé Bornêta, eu só espiano sem entender bem o que tava assucedeno, era piqueno na época, tinha mais é que ficá era calado.

De repente, minino!!!, escutei os tiros... Dois pipôco e mato quebrando pra todo lado... Até arvore grande caia lá no artinho perto de umas pedra... Meu primo, mais que depressa, já pra debaixo do giral do Zé Borneta drumi... Os cachorros ficaram tudo naquela agonia danada.

Quando tudo acarmô, chega no terreiro o meu pai e o Zé Bornêta todo moiado, pingando leite pra todo lado...

Na prosa deles, meu pai disse: De onde veio esse bicho desse tamanho, sô? O Zé Bornêta respondeu: - Sei não, mas tem muito tempo que tava suntano as vacas que não dava leite e sumia no pasto e só parecia tempo despois... É por isso que as vacas estão todas só pele e osso, magrinhas, coitadas....

Meu pai disse: - Mas, também num dava tempo de ter leite pra tirar. Aquela fera manando direto nas vacas...(fiquei curioso, mas calado). O Zé Bornêta pegou a junta de bois de carro, botou a canga e falou, vamos lá arrastá aquela mardita pro terrêro.... e lá foram....Eu fiquei só de butuca na manobra dos dois...

Daí a pouco eles chegaram no terrêro de secá café, com uma cobra que media não sei quantos metros, pois quando encostaram com a cabeça dela perto do Paiol de milho, o rabo ainda tava lá no mesmo lugar... Os zoião era qui nem dois farol de bicicreta... e no buraco dos dois tiro ainda saia muito Leite mamado a noite toda pela cobra....

O tempo passou, fiquei mais vei um tiquin, e ai, esturdia animei e preguntei pro meu pai o que foi feito daquela cobra? Ele disse que a cabeça foi tirada com jeito pra mode empaiá... E o couro foi curtido e despois vendido pra Casa de Couro Santos que tinha lá na Avenida Getúlio Vargas em Conselheiro Pena-MG, que comprou pra mode fazer borsas de muié, cintos e carçados pra muié.... Só de borsa foi mais de cem, segundo me disse....isso sem contá os oitenta e tantos cintos, os sessenta par de sapato tombem de muié, sem falá na rebarba que sobrô...

André Almeida
Enviado por André Almeida em 27/02/2017
Reeditado em 23/08/2020
Código do texto: T5925593
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