O ladrão cara-de-pau
Assis Silva
Existem lugares famosos por diversos motivos, por possuir coisas boas, belezas naturais, ou por ser feio e violento. As duas últimas, era o caso da feira do cemitério em Marituba. Tinha esse nome esquisito, pois, acontecia ao lado de um cemitério. Porém, sua fama não era por estar ao lado de um cemitério (coisa que já causa uma certa náusea) e sim pela quantidade de roubos que lá acontecia.
Júlio trabalhava em uma distribuidora de botijões gás, era um homem forte, cara fechada de poucos amigos, e usava barba grande. Eram os últimos dias de fevereiro, os próximos dias aconteceriam as festas do carnaval, e era de se esperar o movimento de assaltos que assolava Marituba. Quinta feira pela manhã ao chegar na empresa é encarregado de atender um chamado de entrega na já citada feira, as entregas eram feitas em uma moto, que transportava até três botijões de gás. Prepara-se e vai.
Ao chegar no endereço indicado desce da moto, verifica-se se de fato está no endereço verdadeiro, eram dois botijões que lá devia ficar. A feira estava movimentada, um ambiente propício para acontecer pequenos furtos, Júlio estava ciente disso, por isso, olhou bem para as pessoas que estavam em sua volta. Checou-se de que não havia nenhum perigo iminente. Desprendeu o primeiro botijão e o colocou no chão. Virou-se para pegar o segundo, demorou uns 30 segundos para desprendê-lo, ao virar-se novamente para pegar o primeiro e assim levar os dois um em cada mão para o cliente, assustasse ao perceber que já não estava onde havia colocado. Assustado com a rapidez que havia sido furtado, fala em solilóquio em voz alta:
_ não acredito!
Um homem com um botijão nas costas há alguns passos de Júlio, vai até ele. Percebendo-o sua apreensão o indaga:
_o que aconteceu amigo?
- Cara, acabei de deixar um botijão aqui, não faz nem 30 segundos, o tempo suficiente para me virar e desprender um outro da moto para levar ao cliente, eis que me roubaram!
O homem e também o ladrão que acabara de furtar o botijão, estava com o mesmo nas costas e na sua cara de pau, fala:
- Pois é amigo, aqui é assim mesmo, por isso, eu nunca tiro o meu das costas!
Foi falando e se afastando novamente até desaparecer na multidão.