CONSERTANDO UM VAZAMENTO
CONSERTANDO UM VAZAMENTO
Recém casados, Fernando e Marina, ambos de São Vicente, foram morar em São Paulo. Fernando era engenheiro da Ford e Marina havia decidido, como acontecia há tempos atrás, ser a melhor esposa, a melhor dona de casa e a melhor amante para Fernando. A mulher perfeita. Começaram a viver um conto de fadas. Fernando acordava cedo, café da manhã na mesa, jornal ao lado e Marina com os olhinhos brilhando, escutava os elogios e os “eu te amo”, o café estava uma delícia, etc. Á tarde, maridinho chegava do trabalho, esposa toda arrumadinha e cheirosa, um jantar ou um bom lanche com mesa pronta. Mais elogios, Fernando ia ver televisão e enquanto Marina arrumava a cozinha primorosamente. Dormiam cedo e desfrutavam a vida de casados, como sempre haviam sonhado, vivendo um para o outro. Mas como a vida não é feita só de alegrias e flores, os problemas aparecem e devem ser resolvidos. Marina começou a sentir um cheiro desagradável na sua adorada cozinha. Estava só em casa, pediu ao zelador verificar o que causava aquele insuportável odor. O homem chegou, procurou e deu seu veredito: vazamento debaixo da pia e embaixo da mesma já havia uma boa porção de água acumulada. Amarrou uma tira de borracha e avisou que o sifão devia ser trocado o mais rápido possível. Fernando, seu herói, marido, engenheiro, etc., escutou o ocorrido e prometeu que na próxima terça feira, feriado em São Bernardo e não em São Paulo, consertaria a pia, uma vez que estaria em casa o dia todo. Marina passou a aguardar o dia prometido como se fosse uma data importante, cheia de planos. Faria um lanche da tarde bem completo enquanto seu amado cumpria suas funções de marido no árduo trabalho de consertar o vazamento.
Chegado o dia tão aguardado, Fernando acordou mais tarde que o normal, removeu a peça com defeito, foi a uma loja de materiais de construção, comprou o melhor sifão que havia e as ferramentas necessárias para o trabalho. Almoçou com Marina, tirou uma soneca. Acordou, vestiu um calção vermelho bem velho e uma camiseta branca. Desde cedo havia fechado o registro geral do apartamento, se enfiou embaixo da pia e iniciou a instalação do novo sifão. Marina avisou que ia até a padaria e já voltava. Fernando, nem escutou, tão concentrado no serviço. Afinal era sua primeira oportunidade de mostrar que era um marido exemplar. Terminou de colocar a nova peça, apertou bem as braçadeiras. Desceu ao térreo, chamou o zelador para observar se o vazamento persistia enquanto ele, Fernando, acionava o registro. O zelador subiu e se instalou sob a pia, de modo que só se via suas pernas, o corpo na posição de quatro. Um detalhe: o zelador vestia um calção vermelho e uma camiseta branca. Outro detalhe: o calção estava descosturado na parte debaixo, e o zelador não usava cuecas. Marina toda faceira com uns pãezinhos quentes e materiais para o lanche entrou pela porta da cozinha exatamente no momento que Fernando estava no banheiro acionando o registro. Viu aquele homem de calção vermelho, e, no meio das pernas, certa parte do corpo masculino a mostra. “Que bonitinho”, pensou, e, carinhosamente como quem apanha um passarinho, colocou sua mão nas partes expostas. Provocou um verdadeiro urro do zelador que, ao sentir que mexiam em suas intimidades, bateu violentamente com a testa no sifão, que era metálico. Rapidamente o zelador saiu debaixo da pia e encarou Marina. Esta, ao ver que não era seu maridinho, lançou um grito estridente e correu para o quarto, trancou a porta, desandando a chorar, em estado de choque. Fernando correu para a cozinha e não entendeu nada quando viu o zelador com a testa sangrando. Este, sem explicações, saiu rapidamente do apartamento. Tudo explicado, Marina obrigou Fernando naquela mesma noite a levá-la para casa dos seus pais. Chegados a São Vicente, avisou que só voltaria a São Paulo após Fernando alugar outro apartamento e mudar. E assim foi feito.