O acidente do Narquita
O Narquita era inconfundível. Mas com receio de pagar “mico” esperei um pouco mais o “cabra” se aproximar. Era ele. Bom dia Narquita. E aí, quais são as novas?
– Bueno tchê, as novas é que as ruas sem calçamento do Herval tão viradas em buracos e valetas. Outro dia meti o pé numa valeta que deu para esconder o joelho. A coisa foi tão feia que o meu cusco ficou mais assustado que eu. O pobre do vira-lata arregalou os olhos e começou a latir e até foi uma boa, pois logo fui acudido e retirado da cratera.
Enquanto o Narquita descrevia o acidente, motivado por condições inseguras, eu lembrava do semáforo de três tempos que havia sido instalado num cruzamento no centro da cidade para controlar o fluxo de um pouco mais de uma centena de automóveis que havia em toda a cidade. O dito cujo era um aparato tecnológico tão avançado que, na época, a colocação do mesmo dera mais IBOPE que o Festival de Rodeio Internacional do Herval. Mas, para surpresa minha a moderna obra de controle de tráfego estava desativada. Nada melhor que perguntar para o Narquita sobre a obra prima.
– Narquita, ainda que mal pergunte, e a sinaleira, o que aconteceu que não está funcionando?
– Olha tchê, o pessoal até esqueceu daquele treco, pois mais atrapalhava que ajudava. To te dizendo o que ouvi nos botecos, afinal, eu manjo mesmo e de andar a pé, pois de carro o único que me atrevo a dirigir é o carrinho de mão que tenho no sítio. Mas se queres saber faz aproximadamente um ano que a trapizonga não funciona. E, pelo que sei ninguém tem saudade da coisa, pois alegam que as luzinhas tinham a finalidade de pôr ordem no tráfego, mas pelo que dizem essa coisa de tráfego não tem aqui no Herval, não.
– Outra coisa Narquita, será que o pessoal não acertou errado o horário de verão, pois só vi alguém se movimentado na cidade depois das dez?
– Se acertaram certo ou errado eu não sei, pois aqui se é uma coisa que ninguém se preocupa é com horário. De manhã as ruas ficam desertas até as dez e à tarde ninguém tem hora para começar. E o melhor é que até mesmo a cachorrada só começa a latir depois que o dono se levanta. São uns baitas companheiros.
– E esse tempo?
– Pois tchê, como sabes sempre que vou falar do tempo peço ajuda pro meu amigo urubu. Mas até o urubu tá se negando a levantar vôo para arriscar um palpite. Talvez tenha sido pelo fato de ter levado uma pedra de gelo do tamanho de um ovo de avestruz na cabeça por ocasião do último temporal.
– Bem, vou indo. Até outro dia.
– Até mais ver vivente.