A montanha
Durante todo tempo ele caminhou sem olhar para trás. Agora, no alto da montanha ele sentiu que era chegada a hora de começar a descida e descobriu (amargamente) que teria que economizar suprimento e constatou (também) que suas forças e seu vigor físico não era mais o mesmo. Subira tanto e em nenhum momento se deu conta de que teria que descer.
Quis tanto chegar “Lá” que sequer pensou que o “Lá” é o aqui o agora. Que a vida passa que o tempo urge que ele é um animal feroz, implacável que não perdoa que é nosso algoz.
Juntou tanto! Acumulou tanto! E agora enquanto descia a montanha segurando tudo que acumulara já não tinha certeza de ter feito a coisa certa. Não sabia se teria TEMPO para usufruir o que juntara durante sua existência.
Não tinha filhos, pois não havia casado por falta de tempo e não tinha mais seus pais. Não tinha amigos, em sua ânsia de ter não os conquistara. Não tinha ninguém. Enquanto descia a montanha sozinho refletia e sentia medo. Muito medo!
A cada quilômetro da descida José sentia-se mais e mais cansado, por essa razão foi desfazendo de seus pertences, tudo lhe parecia pesado e causava cansaço.
Metro a metro José foi se desfazendo de tudo e, ao chegar ao pé da montanha, ele percebeu que tinha com ele apenas a roupa do corpo. Nisso, sentiu algo lhe aquecer o ombro, passou a mão e percebeu ser “caca”. Olhou para o céu e amaldiçoou enquanto tirava a camisa que lhe cobria o corpo velho e cansado.
Depois arrependido, ajoelhou no chão. Pediu perdão para Deus...
Pessoas passavam e ao ver aquele homem sem camisa caído no chão inerte, diziam:
- Hei! Não é o José? O que será que aconteceu com ele?
- Morreu!? Nossa! Ele tinha tanto dinheiro e acabou assim?
-Será que ele teve tempo de gastar tudo o que tinha? A vida é uma montanha: a gente sobe. Sobe. Sobe, mas tem uma hora que tem que descer. A gente tem que ir vivendo um dia de cada vez, ter amigos, pessoas que se preocupam com a gente, afinal da vida nada se leva.