O vento brinca de se esconder na quina da casa. A menina se protege do frio, atrás da parede. No terreiro a grande fogueira de lenha verde crepita. E na bacia com água, boiam duas brasas, viajam lentamente, até se encontrarem em abraço prolongado. Cada espectador imagina sua fantasia. O  abraço das brasas para alguns, significava  casamento; para outros, viuvez. Morte para Generoso e Corina, segundo o coração de Venâncio. 

 O vaqueiro da confiança do patrão toca o berrante. Laudelino responde com um aboio cadenciado, marcando passo, em homenagem a todo vaqueiro que já morreu na face da terra.  Zé Coco toca  “Saudade de Mirabela”. Foguetes sobem chiando e explodem no céu,  longe da vaca parida e do bezerro que descansa no berçário.
— Churrasco e bebida, só depois da missa — dissera o anfitrião, abrindo um largo sorriso. Assim que o padre anunciou que celebraria a São José dos Vaqueiros.
Generoso sentiu-se honrado pelo fato de ter uma missa celebrada em sua fazenda. Onde acomodaria tanta gente?
— No curral — Dissera Onofre que lia os pensamentos do patrão antes que a palavra lhe  saísse da boca — o curral limpo. Lavado e escorrido em sete águas.
O monsenhor concordou plenamente:
— Podemos chamar de Missa Campal.
Muitos aplaudiram a ideia e absorveram a palavra campal. Moravam no campo, mas não conheciam aquela palavra.
— O padre é sabido — disse Lau.
— Os padres são estudados. Sabem Latim, Italiano, e outras línguas que nem sei dizer.
— Deus deve saber falar muitas línguas...
— Antes que nossos lábios pronunciem qualquer palavra. Deus já sabe o que pensa o coração homem.
— Quem pode compreender Deus!
— Ninguém. Só Ele mesmo.
Nhá Santa não arredava o pé. Parecia ser a sombra do padre.
— Aprovei sua ideia de botar reforço na cozinha e dar folga aos de casa. Nunca tinha visto Nhá Santa  tão feliz — Disse Generoso a Corina.
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Adalberto Lima - recorte de Estrada sem fim...
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