Vai Samburá...
Sai, Boto-cor-de-rosa...
Avante, Ouro fino...
 Arreda, Caxangá!...
Abre a porteira,  menino!
Que a boiada vai passar.
Bôooi!
 
 
O poema ‘Saudade em Boi’  foi musicado. Se fará sucesso, talvez o autor da letra não alcance. Nem reconheça que a obra é sua. Mudaram aqui, mudaram  ali. Mudaram até o título ‘Saudade em Boi’ para ‘Saudade de Boi’. Mas convenhamos, depois do último verso, quando o berrante tocou... O Vaqueiro sentiu saudade de boi, e o boi  sentiu saudade de vaqueiro.
— E pode, modificar a letra ?
— Depois que o autor morre, o direito autoral é da família.
— Generoso é vivo.
— Vivo agora. Quando o poema foi gravado, ele já estava em Deus. Sequer conheceu a neta Ravenala. É ela quem conta a história.
— Dizem que ‘Saudade em boi’ é obra de João Guimarães.
— E boi sente saudade?
— Se sente não sei. Chuvisco arrebentou a cerca e fugiu em disparada à procura de Onofre.
— Isso é provável. Também é provável que o poeta e fazendeiro tenha escutado uma frase solta, dita pelo amigo famoso, ou lido em livro. Não um poema. O poema é de Generoso.
— O poeta é imitador daquilo que o artesão fabrica. Saudade em boi pode ser inspiração vinda da frase cunhada por outrem, ou de uma tela a óleo como o quadro de Mimosa, amamentando a cria.
— Poema nascido a partir de uma tela?  
—Talvez  de uma  pintura em óleo da vaca Mimosa ou do boi Boto-cor-de-rosa, cuja arte enfeita as paredes de muitas casas.

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Adalberto Lima - recortes de Estrada sem fim..