O sol gastou metade do céu. Sombra, só a do burrinho. O pobre animal  dava coice ao vento e batia com o rabo, tangendo mutuca. Pau alto tinha na beira da grota, ali na aba do morro, a mata é  rala, e o verde, pouco.  Vintém sentou sobre as patas traseiras, com os olhos arregalados,  preparado para atalhar o burro, se o mulo tentasse fugir novamente. Estava amarrado, mas o cabresto era fraco. Xerém aquietou-se. Ergueu as orelhas, emparelhadas para cima, assuntando o tempo, sem sair do lugar... Só trocando de perna, de vez enquanto, ora por causa do cansaço, ora por causa das picadas da mutuca. Algum perigo ele pressentia. Cachorro Vintém levantou  as vistas em missão de reconhecimento. A mata rala deixava crescer capim nativo, por baixo, de modo que bicho pequeno  passava sem ser visto. Mas Vintém não tinha interesse por nenhuma caça. Estava triste, como que padecendo trauma de infância e juventude. Já era um cão velho, desprezado desde novo. 
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
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