Mineiro vai comendo devagar. Pelas estradas da vida, o pó.
Tudo devagar... Na paciência de manter o mesmo passo.
Joga o laço. Voltei o mourão, e dá um nó.

 
  O sol despontava lentamente, trazendo o lusco-fusco da primeira aurora. Teimoso, Adilson Júnior apeou abismado com as cores da aurora despertada. Onofre desceu da montaria. Graudez não latiu. Abanava o rabo e lambia os pés do dono. Xibungo ladrava, desesperadamente, outros cães  respondiam longe. O vaqueiro largou a cravina no chão. Amarrou uma lanterna na copa do chapéu de couro, prendeu na boca um punhal; e em volta da cintura atou uma corda de laçar boi. Adilson Júnior manobrou a carabina de dez tiros e fez mira para disparar num vulto entre os galhos de  pau-preto.
—Não atire!  O latido não acusa onça.
Vaqueiro Onofre subiu na árvore e no emaranhado da copa deparou-se com uma figura simiesca, semelhante a um macaco albino. O bicho grunhia como os espíritos que rondam a noite na selva. Aproximou-se, jogou lanço certeiro. Prendeu o animal com a grossa corda e puxou devagar, dando voltas entorno do ser tão semelhante ao humano. Aos poucos foi dominando a fera. Já no chão, por um descuido do vaqueiro, a selvagem mordeu a  panturrilha dele. Os cães avançaram para estraçalhar a ‘caça’. Onofre repreendeu, chamando-os pelos nomes.   Graudez veio lamber a ferida onde a índia cravara os dentes. Ela balbuciou: ‘Jequiriti-maxacali...Maxacali...Apinajé...Jequiriti...’
 E o vaqueiro perdeu o faro da onça.
—Esse bicho fede muito, seu Onofre!
—O bicho cheira a caça do mato, respondeu o outro.
Onofre uniu as mãos fechadas em concha, e soprou entre os polegares. O borá quebrou o silêncio da mata, percorrendo quarto de légua. Alguns caçadores responderam com um assobio fino: Fííííu... fííííu... João Velho mostrava ânimo, mas não chegou a tempo dos primeiros nós. Pururuca perdeu o ritmo da cavalgadura,  a arma e a vareta de açoitar cavalo. Os outros, cada um trazia
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
Imagem: Internet