Consta numa carta (não postada) feita à família, que, voltado de São Paulo, Generoso descera no entroncamento de Pedra Azul e fizera o percurso a pé até Juramento. É muito provável que tenha sido a mesma via dolorosa por que passou Pururuca.
— Ah! Pensei em sugerir que expurgasse esta parte. Dou-me por convencido. Continue.
— Quem continua é a velha que morava numa choupana à beira da via que liga Salinas a Montes Claros. Naquela época, a estrada era muito precária, praticamente, só carroçável, e passava apenas um jipe, uma vez por semana, fazendo frete, levando o povo do campo para fazer compras na cidade. Garimpei muita coisa também em crônicas que ele escreveu. E minha avó guarda com carinho inestimável. Portanto, não me peças mais explicações.
— Entendo. Aliás não entendo! Como teu avô Generoso descreveu um fato ocorrido na vida de Pururuca?
— Ora, Bobinho! Já disse que meu avô viveu isso na própria pele. Fugiu de casa, foi para São Paulo. Depois tomou outros rumos na vida. Esqueceste que ele também levou sete lapadas com relho ensebado?
— Então, são três casos iguais: Generoso levou uma surra do pai; Onofre, uma surra da mãe, e Pururuca, do mundo.
— É o que diz o ditado popular: ‘O mundo é mestre carrasco.’
Robert segurou o riso — Continue — disse ele mais uma vez.
— Pois bem, a mulher que morava à beira da estrada disse: ‘Melhor viver assustado do que morrer de medo. Percebo que a onça se tornou um pesadelo em sua vida, meu filho. Estás vindo de muito longe!’
— Não muito. Venho do Tremedal.
— A pé?
— Sim! Não tenho dinheiro pra pagar condução.
— Tome aqui alguns trocados, e fique na beira da estrada. Dê sinal para o primeiro carro que passar. O senhor é precisado de descanso.
— Não tenho como pagar à senhora. Deus lhe pague.
— Já pagou há muito tempo, Deus paga adiantado.
— Tô escutando barulho de motor.
— Pode correr pra estrada. É o jipe. Nem precisa se despedir, se demorar, vai perder o transporte.
— Inté!
— Inté!
Pururuca contou seus medos, logo que chegou em Campo Grande. Era necessário explicar o porquê das marcas de chibata nas costas, ou melhor, rastros de vergônteas e cipoadas...
— Não parece estranho que Pururuca tenha fugido de Tremedal, logo após a morte de Zé Pilão?
— Ora, Bobby, isso é o que ele conta! Acaso passaste a se interessar pelas páginas policiais?
— Não! Mas tem coelho nesta moita.
— Tem é onça...
***
Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
— Ah! Pensei em sugerir que expurgasse esta parte. Dou-me por convencido. Continue.
— Quem continua é a velha que morava numa choupana à beira da via que liga Salinas a Montes Claros. Naquela época, a estrada era muito precária, praticamente, só carroçável, e passava apenas um jipe, uma vez por semana, fazendo frete, levando o povo do campo para fazer compras na cidade. Garimpei muita coisa também em crônicas que ele escreveu. E minha avó guarda com carinho inestimável. Portanto, não me peças mais explicações.
— Entendo. Aliás não entendo! Como teu avô Generoso descreveu um fato ocorrido na vida de Pururuca?
— Ora, Bobinho! Já disse que meu avô viveu isso na própria pele. Fugiu de casa, foi para São Paulo. Depois tomou outros rumos na vida. Esqueceste que ele também levou sete lapadas com relho ensebado?
— Então, são três casos iguais: Generoso levou uma surra do pai; Onofre, uma surra da mãe, e Pururuca, do mundo.
— É o que diz o ditado popular: ‘O mundo é mestre carrasco.’
Robert segurou o riso — Continue — disse ele mais uma vez.
— Pois bem, a mulher que morava à beira da estrada disse: ‘Melhor viver assustado do que morrer de medo. Percebo que a onça se tornou um pesadelo em sua vida, meu filho. Estás vindo de muito longe!’
— Não muito. Venho do Tremedal.
— A pé?
— Sim! Não tenho dinheiro pra pagar condução.
— Tome aqui alguns trocados, e fique na beira da estrada. Dê sinal para o primeiro carro que passar. O senhor é precisado de descanso.
— Não tenho como pagar à senhora. Deus lhe pague.
— Já pagou há muito tempo, Deus paga adiantado.
— Tô escutando barulho de motor.
— Pode correr pra estrada. É o jipe. Nem precisa se despedir, se demorar, vai perder o transporte.
— Inté!
— Inté!
Pururuca contou seus medos, logo que chegou em Campo Grande. Era necessário explicar o porquê das marcas de chibata nas costas, ou melhor, rastros de vergônteas e cipoadas...
— Não parece estranho que Pururuca tenha fugido de Tremedal, logo após a morte de Zé Pilão?
— Ora, Bobby, isso é o que ele conta! Acaso passaste a se interessar pelas páginas policiais?
— Não! Mas tem coelho nesta moita.
— Tem é onça...
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...