Sentada sobre as patas traseira, uma onça preta, de cócoras, humilde,  feito cachorro pidão, espiava  a araponga pular. Também de cócoras, ele  estava. Levantou-se. Deu três pulos de tiziu: Subia e gritava. Descia. Subia e  gritava...No último grito, a onça abanou o rabo e saiu devagar, como se dissesse: ‘Tive medo não! Tô de barriga cheia.’ 
 Roseta o animal, cabra mole!
—Tenho coragem de furar o bichinho, não!
— Cadê a arma?
— Caiu na voçoroca.
— Por que não pegou?
— Dava não!
— Caiu em qual delas?
— Na voçoroca do  meio, no vale grande que fica entre duas serras. Tem tudo que é bicho lá dentro.
— Vamos voltar. A onça deve ter sentido os cachorros e se escondeu lá.
— Volto não! Lá, volto não! Já vi onça olhando pra mim. Quero ver mais não!
— Pois sim, pois sim! Vá se juntar aos outros. Comigo você não presta pra andar.
 Lá embaixo, num poço gigantesco, tinha água funda e pouca luz. Adiantava  o sol levantar a pestana e forçar as vistas. Não enxergava o fundo. Nem vale é aquilo. É um morro de terra fraca. Cansado, que se encostou noutro morro. Vem a  água fura a terra e faz um cafundó.
— Os mais antigos contam que já morreu muito animal lá dentro. Mas animal não conta. Gente conta. Três vaqueiros sumiram. Devem estar lá. Tem osso de tudo quanto é vivente. Se escapar da queda com vida. Não sai mais. Sai não! Fundo demais!
 — Sê besta, Pururuca! Caindo lá com vida,  morro não! Tem água e caça. É só fazer fogo.
—Vai viver lá o resto da vida. Sai não! Morre de saudade. Não nem querendo... Se cair uma onça e escapar, tem que negociar espaço com ela. E se a onça  parir,deixa a criar vingar. Pode comprar briga não!
 — Para de pensar besteira! Como a onça vai apanhar cria. Só se o macho for você, Pururuca!
—Sei não, pode cair prenhe. Mexo com onça não, seu Jose Lino!
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim..
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