A intenção de Onofre era surpreender bicho grande na furna da onça. Chegaram ainda escuro, acenderam fogo na entrada da gruta e ficaram de tocaia.
— Vem  coisa aí, disse João Velho, quase em sussurro.
— É uma raposa! Ninguém se manifeste.
Fizeram absoluto silêncio, mas nada ouviam, senão o crepitar de galhos verdes ardendo ao fogo, e pequenos roedores que saiam da toca, correndo desembestados.
Arribaram.
Cachorro Graudez latiu longe encomendando tatu. Onofre ralhou e seguiram marcha. Mais adiante, o vaqueiro parou. Tirou o chapéu, beijou o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e se benzeu.
Os cachorros acuaram bicho no mato.
Agora se espalhem de dois em dois — disse Onofre — O rapaz da cidade fica comigo. João Velho pode seguir sozinho ou fazer uma trempe com mais dois. Todo mundo amontado. É preciso varrer esse sovaco de serra, pisando miúdo, passando pente fino!
Pururuca não conseguia acompanhar os passos da montaria de José Lino. E atrasou-se. O companheiro  perdeu a paciência. Tinha diminuído a batida para o outro alcançar a marcha... ‘Atraso de vida, aquele sujeito!’
— Chegue a espora no vazio do animal, vaso ordinário!  Nesse passo, não vou alcançar  nem o  rastro da onça.
— Cavalo fi’duma égua...
 —O cavalo é bom. O cavaleiro não presta. Só mesmo Pururuca pra reclamar de Torresmo. Na batida de estrada, não tem cavalo melhor.
— Nasci pra vaqueiro não!
— Se não acertar o passo, largo você pra onça comer...
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...