O doce sumiço

- Ajudem-me! - assim implorava dona Regina, mãe de Kristina ao entregar os panfletos com a foto da filha, algumas características e uma escrita chamativa grafado PROCURA-SE KRISTINA! Pelas ruas andava preocupada com sua única ajudante. Ultimamente, largou a venda de doces para procurar Kristina.

A divulgação da procura já andava pelos postes da cidade de Talkson, paradas de transporte coletivo, alguns estabelecimentos. Dona Rê, teve até coragem de entrar no botequim de seu Joaquim e pedir para divulgar a procura. Seu Joaquim era um velho narigudo, solteiro e comerciante na cidade há anos. Apesar de seu jeito estranho, Joaquim era cliente fiel de Regina. Comprava seus doces para revenda.

Ao pegar o panfleto com a foto de sua “conhecida”, Joaquim esperou a mãe de Kris se afastar e o rasgou com frieza, pois sabia que a garota já estava longe. Em seu estabelecimento, havia frequência de conhecidos e outros senhores esquisitos.

- Encontrou ela? - gritou dona Rochelle ao ver Regina chegando em casa. Dona Rochelle era uma senhora viúva que possuía muitos problemas de saúde. Kris e sua mãe moravam no porão de sua casa. O lugar era minúsculo e não possuía divisória de cômodos. Quase sempre, pagavam o aluguel em forma de doces, que eram dados aos netos de dona Elle, como era chamada.

Regina a olhou chacoalhando a cabeça negativamente, caiu em prantos. Foi se consolar fazendo uma prece, o que após o sumiço da filha estava sendo mais comum. Após a oração, deitou e adormeceu até o dia seguinte.

Após rasgar o papel, seu Joaquim refletiu sobre a vida de sua suposta amante. Por mais diferente, ele era o confidente de Kris. Quem escutava seus desabafos e sabia seus segredos.

- Sonho muito em viajar por aí e conhecer várias culturas e pessoas diferentes. Mesmo eu sendo uma garota sem futuro, como dizem os comerciantes, tenho esperança que irei realizar meus sonhos e dar melhores condições à mamãe. - tudo isso soou como um sino na lembrança de seu Joaquim.

Joaquim Marini quando ia comprar doces sempre prometia riquezas e bens à Kristina, que recusava. Kris sabia que o homem era um golpista, que comandava jogos ilegais e ganhava tributos de inocentes idosos.

Lembrou-se então da vez que a encontrou na praça da cidade e avisou que precisava de algumas guloseimas. Kris com sua generosidade, atendeu o pedido de ir vender na casa do homem. Mas iria no dia seguinte. Dia em que a moça simplesmente desapareceu.

Em questão de minutos, recordou os momentos daquele dia. Era uma sexta-feira fria e com nevoeiro. Somente à noite e sem avisar nada a ninguém, a garota apareceu em sua residência. Foi expondo seus produtos, mas não era precisamente pelos doces que o velho se interessava. Sem relacionamentos, Joaquim queria ao menos uma noite de prazer com Kristina, que o ignorava a seguir de suas chatas cantadas.

- Estão aqui seus doces, senhor Joaquim. Preciso ir, já está tarde e mamãe está sozinha.

- Te trouxe até aqui para jantarmos e termos uma noite inesquecível. - o que Kristina não sabia, é que ela seria a janta da noite.

A jovem hesitou um pouco, mas ficou mais um tempinho na casa de seu amigo, contando-lhe assuntos da comunidade. Sempre o contava os segredos, quando o velho ia até sua barraquinha de guloseimas.

Ao se despedir e tentar sair, o ancião a puxou agressivamente e alertou:

- Só sai daqui após nossa noite de prazer estar completa.

Em um toque de susto, Kris se desesperou e o deu um chute. Irritado com a mulher, Joaquim retirou sua roupa, amarrou-a em sua cama e sem cuidado nem piedade a abusou sexualmente.

A moça já com sua dignidade perdida e sem amor pelo idoso o xingou. O rabugento já estressado se dirige à cozinha, pega uma faca, afia-a bem e enfia brutalmente diversas vezes no corpo de Kristina, que ensanguentou toda a cama.

Sem respiração nem batimentos, o homem assustado procura se livrar daquilo. Pega o cadáver, leva-o até sua Kombi e dirige-se imediatamente à represa da cidade. Lá na escuridão da noite, amarra o corpo a uma grande pedra e o joga na barragem, com uma sensação de alívio. Porém, sabia que a matou, mas ela estava ao mesmo tempo, distante e próxima.

Dona Regina continua a busca pela filha durante longos anos, até ficar herdeira de todas as riquezas de dona Rochelle, depois de sua morte natural. Seu consolo para a perda inesperada e suposto sumiço de sua filha veio através de seu novo casamento, com um conhecido comerciante, um tal de Joaquim Marini.

Gustavo Tamagno Martins
Enviado por Gustavo Tamagno Martins em 28/12/2016
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