A lua surgiu prateada iluminando o terreiro. Os vaqueiros se achegaram ao alpendre, para ouvir  Generoso tocar viola. Euzébia serviu café, chá e biscoito, e quando o relógio de parede repicou oito notas no compasso da noite,  os vaqueiros se retiram. Os solteiros armaram suas redes nos esteios da oficina de farinha, fronteira ao curral, e ali dormiram acariciados pela brisa fresca da noite, porque a casa não tinha parede.
Mal rompeu o dia,  a vaqueirama se apresenta fogosa,  no pátio da sede.A meninada dormia o outro sono que vem depois que urinam na rede. Onofre levantou esfregando os olhos. Escolheu um cavalo desbotado que cochilava à beirada da cerca, encilhou-o e montou. João Velho matutou: ‘O meninote conhece! Esse cavalinho é o melhor da fazenda pra golpear boi arisco. Tem menos arranco que um grande, mas logo toma a dianteira.’
Vaqueiros e fazendeiro seguiram a  batida. O boi fugidio  abria a betônica com o peito, e a triturava nos cascos, abrindo passagem estreita. Os vaqueiros açularam os cavalos no batedor, e só viam  o lombo  do boi, que mais parecia uma bruaca galopante. Generoso passou a mão no rabo da rês e puxou de lado.  O arreio arrebentou, e  a sela escorreu pros vazios do cavalo  Presidente. Com duas upas,  o animal  jogou o dono no chão.  Onofre apertou a montaria  nas esporas, levou  a mão no sedenho do boi e puxou pra esquerda.  Foi um tombo  só.
— Sangra o bicho, gritou o patrão.
— Mato Não! Agora sou o ‘padim’ deste boi.
E passou o laço no pescoço de  Chuvisco, que o seguia como um cordeiro.
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Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...