O sujeito, o predicado e o objeto!
“O sujeito era o João. O predicado: foi assassinado. O objeto: por arma de fogo.”. Assim contou-me o vizinho o último acontecimento do bairro, tentando parodiar a gramática com um fato nada engraçado. A vítima em questão tinha apenas vinte e dois anos. Um jovem alegre que se mudara para a rua de cima. Pouco se sabia sobre o rapaz, mesmo com os moradores se parecendo com verdadeiros detetives profissionais da vida alheia. O crime ocorreu de madrugada. Ninguém viu nada.
Não demorou muito para que começasse a investigação (não a policial, mas sim a de meus nobres vizinhos). Conversavam o dia todo, tentando colher informações:
- Sabe o cara que foi assassinado? Ele era mesmo muito estranho – disse um dos vizinhos.
- Eu acho que ele usava droga. Aquela barba e cabelo comprido loiro não me enganam (respondeu a vizinha gorda sem critérios de avaliação).
- Sabe que eu já o vi com o olho vermelho (retrucou o sabido vizinho).
- Tenho certeza que era maconheiro. Deve ter sido morto por causa de dívida com o tráfico (disse a vizinha feliz com sua sabedoria investigativa).
A verdade é que João, o rapaz loiro, não tinha barba e nem cabelos compridos. Estava ali no subúrbio apenas disfarçado, por conta de um convite que recebera de um jornal evangélico, da igreja que freqüentava. Sua missão era fazer um levantamento sobre a vida no subúrbio, e para isso deveria estar disfarçado, para que não fosse reconhecido em sua real identidade. Os pastores tinham a intenção de conquistar fiéis daquela localidade.
O triste fato é que João foi confundido com um outro rapaz, e somente por isso foi morto. O verdadeiro estava foragido e era filho de minha vizinha, sensível senhora co-autora do diálogo acima descrito.
Logo todos souberam dos fatos reais. Ninguém mais tocou no assunto. A vida alheia só interessa enquanto é especulação. A verdade não tem graça para meus vizinhos. Não tem surpresas, nem adivinhações, nem dão margens para realizações de apostas. A verdade é monótona e chata.