O DISCO VOADOR
Há quem não acredita em disco voador, mas há quem acredita.
Para uns e para outros eu vou narrar aqui agora um episódio tirado da minha própria imaginação:
Estando nós sentados descansando depois do almoço num dia de domingo no pacato arraial dos cabritos, as crianças brincavam no terreiro jogando bolinha de gude quando não, um vulto corta o céu no sentido do sudeste para o noroeste, então, logo em seguida nos saímos a olhar o que poderia ser aquilo, pois, novidade no arraial é sempre coisa bem vinda.
Uns diziam: é um disco voador, outros retrucavam; que nada isso não existe, deve ser um tuiuiú que está desnorteado vagando longe do pantanal.
Nisso vinha chegando dois moleques que tinham ido resgatar uma rabeira de pipa que havia caído no meio do pasto, eles disseram: desceu um disco voador ali na chácara de seo Quintino, a porta dele está aberta e parece que tem gente! Essa conversa deixou o povo ainda mais curioso e nós fomos até lá para ver e tocar a “nave espacial” que julgávamos ser produto de uma tecnologia muito avançada cheia de mistérios cujos tripulantes seriam seres esquisitos diferentes de nós terráqueos tanto na estatura como na cor da pele, mas, para nossa surpresa não era nada do que nós pensávamos.
Paramos a uma distância mais ou menos perto, coisa que dava para examinar nos detalhes mais aparentes.
Então avistamos uma jovem mulher de estatura mediana e um ancião de dias da raça negra desses que faz lembrar um natural da Angola ou do Moçambique.
Olhamos para ele como quem iria interrogá-lo, então ele dirigiu um olhar para nós com um sorriso estampado no rosto, estendeu os braços apontando para o objeto dando a entender que podíamos entrar e averiguá-lo nos mais íntimos detalhes conforme à nossa curiosidade.
Ficamos estarrecidos ao ver que em seu interior não existia nenhuma cabina com painéis cheios de botões e relógios ou algum computador muito sofisticado. Só existia ali um pequeno banco de dois lugares e uma caminha de solteiro e nada mais.
Então saímos de dentro daquela “nave” desapontados já querendo abandonar a aventura quando de repente alguém estendeu a mão para a moça como quem quisesse saudá-la com um aperto de mãos, ela então disse: tcháah! E desapareceu de nossas vistas naquele instante.
Chocados com o susto repentino olhamos assim avistamos o ancião assentado numa pedra no meio do pasto olhando para nós com um olhar sereno de quem não está nenhum pouquinho preocupado com o que está acontecendo.
Alguém exclamou: ela deixou cair alguma coisa no chão!
Apanhamos aquela coisa no chão era um objeto metálico do tamanho da cabeça de um alfinete, eu pensei que fosse um porta- arquivo desses usados em informática, mas ele não tinha sinal de conexão em nenhum de seus lados.
O Asdrúbal chegou com ele perto do computador e para a nossa alegria o nosso computador reconheceu o admirável objeto.
Apareceu na tela do micro uma imagenzinha com a aparência do curioso aparelho e nenhum sinal gráfico.
O Asdrúbal tentou todas as teclas possíveis e nada de abrir o espetacular arquivo.
Estaríamos mais uma vez frustrados se não existisse ali alguém com um (Q.I.) mais alto do que o nosso estimado gênio Asdrúbal, mas por sorte tinha o Joel Macedo que chegou e disse tcháah! Daí surgiu uma página com apenas quatro setas e um sinal de + (mais) apertamos a seta para a direita apareceu uma página com uma infinidade de arquivos.
Selecionava-se o arquivo e dizia tcha no mesmo tom que a moça falou e abria se a página, mas ninguém sabia ler aqueles caracteres estranhos até mesmo para o Asdrúbal que domina três sistemas de escritas oficiais que são o latino o grego e o cirílico que é a escrita russa.
O Joel Macedo nos deixou à vontade navegando pelos arquivos da garotinha saboreando porém somente as figuras; eram fotos de rios, lagos, cidades, montanhas etc. Tudo visto lá de cima.
Também abrimos o sistema de arquivos do ancião e contemplamos eu creio, tudo o que ele já havia experimentado em sua vida profissional, afetiva, de lazer e tudo mais, mas nós nem sabíamos que também as nossas atitudes estavam sendo gravadas neste mesmo objeto.
Tudo o que nós havíamos feito minutos atrás já estava registrado nas memórias do formidável aparelho.
Mas investigar algo desconhecido sem descobrir todos os pormenores não é glória. Mais uma vez apelamos para quem tivesse agudez de espírito para desvendar os últimos segredos; o Joel Macedo que chegou e disse em tom meio falado meio cantado tcha tcha tcha tcha tcháah! E tudo foi traduzido para o nosso belo idioma português.
Assim toda aquela euforia acabou ali quando vimos que tudo não passava de um grupo de teatro amador ensaiando uma peça.