209 – A MULHER DO VIZINHO...
No sertão do Quebra-Pedra, havia dois compadres, não eram vizinhos de cerca, moravam a uma boa distancia um do outro, e era de costume naqueles cafundós os vizinhos se visitarem, mas um dos compadres sempre sonhava em dormir com a mulher do outro, tanto sonhou, tanto pensou naquilo que um dia ao passar nas proximidades do córrego viu a comadre sozinha lavando roupas, cuidadosamente averiguou as cercanias para certificar que o compadre não estava por perto, e assobiando uma velha canção sertaneja se aproximou da comadre todo maneiroso:
- Bom dia comadre! E o compadre como é que ele esta passando não tenho visto ele ultimamente!
– Bom dia compadre, ele está muito bem na graça de Deus e a comadre anda sumida?
O compadre esfregava as mãos, não achava uma brecha para a sua declaração de amor, para declarar a sua paixão pela comadre, mas o diabo sempre da uma ajudinha para que o mal feito aconteça, ele fumava sem parar, gaguejava, o suor escorria pela testa tal era o seu nervosismos e afobação, foi aí que a comadre foi desconfiando que todas aquelas gracinhas escondia as suas reais intenções, deu asas pra quem não sabe voar:
- Ué compadre parece que o senhor esta precisando de alguma coisa?
– Sabe comadre eu to sem jeito de falar pra senhora, é um negócio complicado, mas eu não to aguentando mais, é que tenho pensado muito na senhora ultimamente!
– Não me diga!
– Não to combinando bem com a minha mulher, passo as noites em claro, aceso, só penso na senhora, sonho com a senhora, será que a senhora não quebrava o meu galho?
– Meu compadre quem quebra galho é macaco gordo, mas vou pensar no seu caso, vou contar tudinho para o meu marido, vou falar pra ele da sua proposta de quebrar o seu galho, se ele concordar com isto eu aviso pro senhor, então a gente da jeito de quebrar o seu galho!
– Pelo amor de Deus comadre! Pela nossa antiga e boa amizade não conta isto pro compadre não, se a senhora contar ele é bem capaz de me matar!
Vendo o seu sonho naufragar, apavorado e frustrado partiu sem se despedir e já imaginando o pior se o compadre ficasse sabendo da sua investida sobre a mulher dele, já se considerava homem morto, comida pra tatu, na certa!
Nem bem o compadre enxerido na pressa afobada debandou pela estrada o outro compadre chegou há tempo de ver o falso amigo saindo do terreiro da sua casa e foi logo indagando:
- Muié, eu vi o compadre saindo daqui o que ele queria?
– Meu homem não há de ver que tem uma onça comendo os cabritos do compadre, ele me pediu emprestada a sua espingarda, a carabina, a que eu falei que não podia emprestar sem a sua autorização!
– Muié do céu podia ter emprestado a arma pro compadre, vou pegar a carabina e rapidinho vou entregar a arma pra ele!
E não deu tempo pra mulher contar o que realmente tinha acontecido, o cavalo ainda estava arriado, montou na rapidez ligeira com a carabina na mão, e saiu galopando caçando o compadre e assim que o avistou de longe com a carabina na mão acenava, acenava, mostrando a arma que supostamente o compadre precisava, gritava a todos os pulmões:
- Eiiii compadre! Eiii compadre! Aqui esta a arma que o senhor esta precisando!!
O paquerador estremeceu de vez ao ver o compadre vindo no desabalado galope pra cima dele e mostrando toda aquela arma matadeira, se desesperou, a complicação estava bem mais complicada do que ele imaginava, neste momento tão crítico não teve dúvida alguma que a mulher havia contado pro marido as gracinhas que ele fez pra ela.
O compadre galanteador pressentindo que a sua vida estava por um fio desembestou rumo a um matagal trançado de um arbusto chamado arranha gato, onde tinha também um cipó espinhoso que trançava nos caminhos, além do capim navalha que só de triscar na pele já corta, lugar onde até capivara evita passar mesmo quando estava sendo acuada por uma onça, o compadre apertava o seu cavalo que mesmo no galope ligeiro não conseguiu alcançar o compadre cara de pau tamanha era a sua correria, que na primeira dobrada embrenhou naquela quiçaça e se amoitou, então ele matutou:
- Peraí, tem alguma coisa errada nesta escapada do compadre!
Voltando para casa:
- Muié o que foi mesmo que o compadre te falou?
– Meu marido você sabe que sou direta, não faço rodeios, só não te contei porque não queria estragar o seu café da tarde, depois te contaria tudo o que aconteceu, o compadre veio até aqui e depois de muitos rodeios e depois e muitas gracinhas me perguntou se eu não queria quebrar o galho dele, a que eu respondi que ia conversar com você, se você me autorizasse, a gente voltava a se encontrar!
– Ah! Então é isso, cabra safado de uma figa, agora a carabina vai funcionar! Saiu enlouquecido e patrulhou todo o matagal por onde o compadre tinha se embrenhado acompanhando o seu rastro, conduziu o seu cavalo por todas as pistas visíveis e invisíveis, mas nada ele havia evaporado, nem de longe ele foi visto, completamente transtornado descarregou a sua carabina no matagal, era tiro pra tudo quanto é lado, na esperança que pelo ao menos um deles atingisse o compadre atrevido!
Tarde da noite aquele compadre enxerido chegou em sua casa todo arranhado, roupas em frangalhos, sangrando muito, e já foi logo falando pra mulher:
- To indo embora, depois eu mando te buscar, aconteceu o desentendido entre eu e o compadre, e eu tenho a certeza que ele ira me matar, to partindo, vou arriar o cavalo e desaparecer no mundo, mas não se desespere, fique calma que tudo no final dará certo!
– Com toda a certeza você buliu com a comadre, seu sem vergonha, além de sem vergonha é covarde, vai fugir!
Sem nada responder o compadre assanhado caiu na braquiara, depois de algum tempo apareceu uma pessoa dizendo que tinha comprado todos os animais e pertences da família, entregou algum dinheiro pra mulher e lhe informou onde seu marido estava esperando!
O compadre agora olha com muito mais orgulho para a sua mulher, sentiu que a felicidade mora ao seu lado, que a mulher era digna de todo o seu amor, de toda a sua confiança e respeito!