Segredos de um casal interiorano

O Cícero, um colega meu de arte foi quem me apontou com os olhos a bonita mulher, e logo me fez uma pergunta instigante que fui forçado a responder negativamente: Se eu já havia visto aquela formosura nua, pelada! Diante do inusitado questionamento, lhe disse com ar de riso que eu ainda não tinha tido esse grande privilégio e ele, cheio de razão disse: - pois eu já! Eu não quis duvidar, porque hoje existe tanto disse me disse e tanta pegadinha que a gente pode cair em alguma sem mais nem menos.

Ele continuou com frases soltas: - ela hoje está liberada para as compras! Ia me dizendo coisas sobre a mulher para chegar a dois episódios insólitos provocados por ela. Estávamos a observá-la do outro lado da rua. Mesmo de longe vi que, se ela não era fora do comum, era sem exagero, deslumbrante pelo visual. Vestido longo, no salto, morena alta, esbelta na medida. Tinha um caminhar de modelo, cabelos negros lisos esvoaçantes e dona de umas curvas perigosas, sem falar dos olhos que me pareceram castanhos brilhantes, quase verdes. A deusa saiu de uma loja, passou pela calçada da galeria e continuou seu magistral desfile aberto ao público local. Aos poucos eu ia sabendo do meu confidente que, ela vivia sob dominação de um sujeito grosseiro, mas possuidor de muitos bens. Segundo o loroteiro, os tais recursos do macho dela, não haviam sido bem adquiridos. Era também do conhecimento geral que o homem era grande ciumento, e que ela se sujeitava às prisões que ele lhe impunha, quando o mesmo estava sob efeito dos seus ataques de possessão. Podia muito bem decretar que ela não sairia de casa durante certo tempo e, literalmente trancava às portas e janelas. A deixava sem telefone para que não se comunicasse com ninguém. Mesmo assim a mulher não reclamava e aceitava as duras imposições do marido. Há mulheres que parecem gostar de maus-tratos, sentem satisfação e até excitação quando o macho com o qual vivem as fazem passar por algumas sessões de tortura. As exigências dele para com ela, eram constantes desde a época em que se enamoravam.

E a mulher entrou em uma loja de roupas, enquanto continuei ouvindo outras loas do desocupado ao meu lado. A explicação maior para o convívio dela com o endinheirado, era aquela que se diz na lógica barata e simplória do comércio: "Toma lá, dá cá". Ela por certo pensava: "Eu tenho a beleza que ele quer e deseja ostentar, ele tem o capital que eu preciso para me manter sendo a mais bonita e tida como a mais gostosa da cidade, então estou ficando com ele..., mas, não estou estacionada na escada rolante. Estou de olho em novos horizontes e propostas, só fico por aqui até o dia em que me aparecer outro com maiores e melhores condições, sim, a coisa era tal qual um leilão. O brutamonte, do alto de sua vaidade e brabeza deseja e sabe que os machos da cidade a olham e dizem que ela é vistosa e que pertence a ele. E ninguém se atreve a mexer com as coisas de alguém que é suspeito de ter mandado matar uma pessoa por causa dela.

Eu estava calado e o Cicero me perguntou se eu estava prestando atenção no que ele dizia e eu disse que estava. Mas ele queria talvez, que eu me interessasse e perguntasse sobre o crime. Meu interlocutor, porém, não me deu tempo de perguntar nada e ainda acrescentou que aquela bonitona era tida como uma psicopata. Calou como que esperando que eu falasse e eu naturalmente quis saber. Disse-me com voz um pouco grave que, ela era responsável pela morte de uma pessoa. Ninguém garantia que ela gostasse do rapaz que fora morto, porém demonstrava ter interesse por alguma coisa dele. E contou que na época do crime, ela já namorava o grosseiro com quem vivia, só que o rapaz, hoje finado, era no mesmo período, alvo constante dos olhares dela em festas e nos lugares por onde se viam. Depois que ela começou a encarar o outro, este, passou a retribuir os olhares e passou a tratá-la de forma galante. Dinheiro, ele não tinha, mas era espirituoso, não era grosso nem insensível. Até o dia em que o brabão enciumado descobriu. Espumando ódio, inquiriu a mulher o que é que ela queria com o tal intruso, e ela indiferente e covarde jogou toda a culpa para cima do pobre rapaz, dizendo que ela era que era constantemente assediada por ele. Ora, aquilo foi o bastante para no dia seguinte acontecer bruscamente a tosca execução por um pistoleiro encapuzado que andava com outro numa moto sem placa, e que ninguém jamais descobriu quem era.

Após a narrativa que ouvi do falador, vi outra vez a atraente perigosa saindo da loja, atravessando a rua e vindo na nossa direção. Mas antes de chegar onde estávamos, parou. Vi um sujeito espadaúdo de óculos escuros lhe abrir a porta da Hillux. Ela, ainda nos dirigiu um olhar rápido, meio que por cima dos óculos, para depois sentar-se no banco traseiro do carro. Meu amigo calou-se e esperou, para dizer mais um pouco dos segredos que sabia. Aquele do carro, era o segurança do marido dela. Maldosamente continuou e acrescentou: não sei com que provas de que o violento macho da bela, não era homem de dar tudo o que a fogosa queria. Dava dinheiro, conforto, mas algumas vezes por mês ele a levava a capital e por lá contratava algum garoto de programa para cobrir sua digníssima companheira e assim, sigilosamente apagarem a chama que ele não conseguia.

Eu quis saber como ele soube deste último caso, já que o enciumado marido não devia querer ter a sua reputação ferida com um escândalo destes vindo à tona. Foi aí que o fofoqueiro não só me disse como soube do caso como também me convidou para ver a prova com meus próprios olhos. Tratava-se de um filme. A verdade é que ele, conhecia um rapazola desses que frequentam academia, mas que trabalhava como garoto de aluguel na capital. O atleta era duplo, trabalhava extra quando aparecia algum convite da agencia pornográfica na qual era filiado. Possuía uma filmadora portátil que embutia no apartamento onde fazia seus programas e por isso havia com ele a prova do acontecido.

Respirei fundo, levantei-me do parapeito da calçada. A história havia sido contada, tudo estava dito. Mas a obrigação me chamava, e eu só paro para ouvir casos quando me sobra um tempinho. Era interessante e curioso o que o Cícero contava, porém, eu não demonstrei interesse em ver filme pornográfico nenhum. Ao perceber que eu me ia, o linguarudo não se calou e ainda insistiu em dizer que podia provar, a viu no filme, peladinha da silva, pilotando um varão.