O TELEFONE
Ficava naquela mesinha no meio da sala o telefone de cor preta com disco enumerados de 0 a 9, já um pouco desbotados. Ao seu lado a agenda alfabética com os números escritos a caneta ou lápis, dos parentes, amigos, médicos, farmácias, mercados, lojas, profissionais de consertos e outros que nem se sabia mais quem era.
Um bloquinho cheio de recados, anotações antigas, rabiscos sem nexo e várias canetas, umas sem tinta, lápis com ponta quebrada, compunham a mesinha do telefone.
A lista telefônica do ano ficava dentro da gavetinha, junto com outras mais antigas.
Quando o telefone tocava, saímos correndo para ver para quem era. Quando meus irmãos atendiam, vinham as perguntas: quem é? É pra mim? E algumas vezes a decepção quando não era o telefonema esperado.
E quando telefonava aquela amiga que conversava, conversava e ninguém queria desligar? Só ouvia mãe dizendo: - desliga esse telefone, menina! E a conversa continuava e a mãe brigava: Vai estudar! Olha a conta de telefone. A gente tinha que encerrar o telefonema. Mas era muito boa conversa sem nada de importância real.
E para fazer interurbanos? Ligava para 101 e pedia a telefonista um interurbano para uma cidade e às vezes demorava 3 horas para que a chamada acontecesse. Era uma emoção falar com aquele parente ou amigo distante.
E quando não dava linha? E quando o telefone estragava, caia ou quebrava? Era um aborrecimento muito grande ficar sem o pretinho insubstituível.
E os enganos, os trotes, as chamadas mudas? Aborrecia, brincadeiras faziam parte.
Mas apesar de tudo isso, era muito bom. Havia mais expectativa, mais suspense, mais alegria.
Triiiiiiiimmmm, esta tocando o telefone preto. Correm pra escutar quem fala! ALÔ.