Imagem do Google
AS JANELAS DO PASSADO = EC

   A velha casa ainda estava lá, com suas amplas janelas abertas para a rua.
   Antigamente havia muitas outras semelhantes, palacetes onde residiam famílias tradicionais da cidade do interior onde todos se conheciam.
   Com o tempo, o crescimento da cidade e a modernidade, muitos foram derrubados para dar lugar a prédios gigantescos em cujos acanhados apartamentos moram famílias pequenas porque hoje em dia ninguém pode ter muitos filhos. (?)
   Mas desafiando a fúria da destruição lá estava firme o casarão onde passaram a infância e a adolescência as pequenas Quita e Gení.
   Quita, já bem idosa, andando com dificuldade, gosta de passar pela calçada e ver a casa que lhe traz doces recordações de um passado já muito distante.
   Nas tardes domingueiras as mocinhas postavam-se às janelas para observar os rapazes que transitavam pelas calçadas lá embaixo.
   As mais recatadas ficavam semi-escondidas entre as dobras da cortina, as mais ousadas debruçavam-se no parapeito e algumas chegavam a retribuir o aceno de algum rapaz desejoso de namorá-la.
   Quita e Geni, lado a lado observavam o movimento naquela tarde.
  La de baixo, Olavo lançava olhares para Quita que retribuía, apaixonada que estava pelo rapaz que conhecia desde crianças, mas com quem nunca trocara uma só palavra.
  Geni, mais nova, ouvia as confidências da irmã com interesse e sonhava um dia também se apaixonar por alguém como o Olavo.
  E foi então que as duas resolveram fazer uma travessura, descer até o portão para ver os rapazes mais de perto.
  Seu Epaminondas, o pai severo, estava entretido com uma paciência e elas acharam que tão cedo ele não largaria o baralho.
  Assim que chegaram ao portão, Olavo e Abdias, o irmão mais novo que o acompanhava, aproximaram-se das meninas e começaram a conversar.
  De repente, a porta se abriu e o seu Epaminondas aproximou-se.
 Todos tremeram nas bases imaginando o que ele faria.
 Seu Epaminondas não era dado a escândalos, com certeza apontaria a porta da casa para as meninas e depois daria uma descompostura, em voz baixa nos rapazes.
  Entretendo ele não fez nada disso. Gentilmente cumprimentou-os e convidou-os a entrar:
  Por que estão ai conversando nessa friagem? Entrem para a sala.
   E os quatro entraram ainda temerosos do que iriam ouvir lá dentro
. Seu Epaminondas sentou-se no sofá com uma filha de cada lado e os rapazes acomodaram-se nas duas poltronas.
  O silêncio caiu pesado. Niguem achava o que falar. 
  O único que estava á vontade era o seu Epaminondas.          Embora conservando a postura austera, intimamente estava se divertindo com a situação. Afinal ele também já fora jovem um dia...
  E foi então que o Olavo falou com a voz rouca:
- Seu Epaminondas, eu quero lhe pedir a mão de sua filha Dona Hermogênea do Carmo...
  E o Abdias imediatamente emendou:
  - E eu lhe peço a mão da Dona Maria Francisca de Jesus.
  As duas irmãs se casaram e tiveram muitos filhos e netos.
  Quita não pode deixar de sorrir com as recordações:
  Imaginem só se o seu Epaminondas pudesse ver como namoram hoje em dia os netos de seus netos!
                                       

                                   1197310.jpg

 
Este texto faz parte do Exercício Criativo
- As Janelas do Passado
Saiba mais, conheça-a os outros textos 

http://encantodasletras.50webs.com/janelasdopassado.htm.
 
Maith
Enviado por Maith em 07/11/2016
Reeditado em 07/11/2016
Código do texto: T5815784
Classificação de conteúdo: seguro