= Meu Vizinho =

Plantou todo animado e esperançoso

Dois pés de uva Itália em seu já belo jardim

Desde o plantio cuidou deles com todo esmero

Pelos enxertos que fez seriam videiras mescladas

Uma daria uvas brancas; a outra, uvas rosadas

Nunca deixou faltar-lhes água, adubo, amor, carinho, zelo

Fez pra elas até um caprichado e bonito caramanchão

Suas videiras eram a maior alegria do seu coração

Sorria feliz e satisfeito e certa vez me disse bem assim:

- Minhas uvas, além de saborosas serão perfumosas

Bem plantadas como estão, próximas aos pés de jasmim

Vibrou quando viu brotarem os primeiros cachinhos

Que logo cresceram, se transformando em lindos cachões

Seus olhos brilhavam antevendo as delícias dos doces momentos

Em que finalmente saborearia, grão por grão, os frutos tenros

Do trabalho de suas mãos e dos seus dedicados cuidados

Quando as uvas já estavam quase totalmente maduras

Quase no ponto, prestes a serem por ele colhidas

Teve suas expectativas, num repente, todas tolhidas

Na calada da noite passou por ali um ser desalmado

Que na mão grande levou todas as uvas do coitado

Ele ao ver que fora roubado ficou, claro, desesperado

Chorou, lamentou mas logo pareceu conformado

Sendo por mim, seu melhor amigo, de fé e do peito, confortado

Disse-me ele, ainda em meio a alguns soluços e lamentos

- Roubar já roubaram, levar já levaram, não tem mais jeito

Só peço aos céus e aos infernos agora, que as minhas uvas

Deem a maior das dores de barriga nesse fdp desse sujeito

E uma daquelas baitas, terríveis, medonhas caganeiras

Que ele cague até as tripas, pelas pernas, por uma quinzena inteira

Confesso, diante dessas palavras fortes, até estremeci, tremi.

Muito torci para que suas pragas não surtissem efeito

Mas surtiram. E tiveram. E fizeram.

Hoje, desidratado, pálido, esquálido... Quase morto

Algo entre amarelo e verde, fraco, estou todo torto

Só me resta uma alternativa nesses sofridos momentos

Rezar e rogar: - Omopai, tende piedade desse jumento!

Desfaça, por favor, as catiças e urucubacas daquele praguento

Já faz bem mais de uma semana, uns dez, doze dias inteiros

Que só faço suar frio, ter calafrios, gemer, me contorcer, cagar e contar azulejos

Nem tempo dá, nem tempo tenho. Estou morando no banheiro!

Nem um daqueles pumzinhos inocentes, silenciosos, baixinhos

Arrisco, pois corro o risco de um temporal completo, de me melar todinho...

= Roberto Coradini {bp} =

03//11//2016

BETO bp
Enviado por BETO bp em 03/11/2016
Código do texto: T5812099
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