Na fazenda Zagaia, o proprietário Juvenal mantinha em seu rebanho de asnos dois jumentos que adquirira desde que comprara a propriedade, no ano de 1950. Eram dois animais conhecidos pela força, embora já apresentassem sinais de cansaço. Juvenal se apegara aos bichinhos e os apelidara por Zuza, o mais novo, e Pêga, o mais velho.
     Quando estavam muito cansados de tanto trabalhar, Zuza e Pêga dormiam em pé, ainda com a carga sob o lombo. À noite, quando Juvenal retirava a cangalha e toda a carga dos jumentos e jogava um pouco de água no pêlo, muitas vezes ferido pelo excesso de trabalho, a dupla deitava e dormia. No dia seguinte, bem cedo, recomeçava a trabalheira. 
     O tempo foi passando e os jumentos envelhecendo e já não suportavam o peso que colocavam em suas costas. Zuza era o mais forte e corajoso, transportava sempre a carga mais pesada. Às vezes, assumia o trabalho de jumentos mais jovens que eram um tanto preguiçosos. Zuza trabalhava de 6h30min até 21h00. Uma verdadeira exploração dos coitados.
     Hora de descanso ou de diversão, os jumentos não tinham. Algumas vezes, saía uma lágrima grossa dos olhos de Zuza. Vivia triste, cansado e doente. Não tinha folga nem para comer... 
     Pêga, seu companheiro, também cansado e mais velho, não aguentava muito peso em sua carga. Pêga era mais esperto e não se jogava no trabalho... Quando colocavam uma carga muito grande, ele deitava e não tinha quem o fizesse levantar, nem sob chicotadas.
     Os dois sempre reclamavam, urrando, da exploração que sofriam. Mas, os trabalhadores da fazenda não se importavam com as reclamações dos jumentos.
     Certo dia, cansado e com o lombo machucado, Pêga aproveitou uma cancela aberta e fugiu da fazenda. Foi viver em um espaço de animais refugiados, bem distante da Fazenda Zagaia. Antes, ele conversou com o amigo Zuza sobre a sua fuga, mostrando os ferimentos do seu lombo e partiu na calada da noite.
     Zuza continuou carregando imensos fardos, passos lentos e trôpegos. A idade avançada e a saúde fragilizada sugavam a sua força. Não davam descanso ao velho Zuza... Ele trabalhava, lembrava do amigo que partira e pensava um dia se libertar de tanto fardo que carregava.
     Certo dia, Zuza deu um basta naquela situação e se libertou. Distanciou-se do grupo de jumentos em um dia de trabalho transportando cana. 
     Zuza foi até um morro, perto de uma floresta e começou a saltar e urrar para se libertar da carga. De tanto pular e empurar a cangalha em uma pedra, conseguiu se ver livre do peso.
     Livre, Zuza deu uma longa risada, mostrando os dentes na imensa boca e sumiu floresta a dentro. Tornou-se um jumento selvagem e ninguém mais teve notícias do velho burrinho de carga.
     
     



 
Joyce Lima
Enviado por Joyce Lima em 17/10/2016
Reeditado em 24/11/2016
Código do texto: T5794041
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