Enterro ...Errar o caminho

Corria o ano de 1976, tempo frio, eu no auge de meus 11 anos, cheio de sonhos, na simplória ilusão de que tinha o mundo aos meus pés, seria rico, realizaria todos os meus projetos que na verdade ainda nem existiam, queria ser jogador de futebol, como todo jovem Brasileiro daquela época. A vida corria rapidamente, um dia aconteceu algo tão próximo de nos, algo ainda não experimentado, algo que nos deixou conhecer um pouco mais da vida, eu e meus amigos tivemos nosso primeiro contato próximo com a morte. Morreu um conhecido de toda vizinhança, foi uma tristeza, agora nos jovens ainda não sabíamos nada da vida, como poderíamos imaginar algo a respeito da morte. Foi uma noite muito estranha, confusa que se seguiu diante acontecimentos inusitados, bastante, mas bastantes curiosos. Jamais imaginaríamos porque, mas o corpo estava programado para chegar as 18:30 horas e naquela época, acho que não tinha horário de verão, pois já estava escuro, quando a funerária chegou com o corpo. A pequena casa cheia de gente, muitos chorando, mulheres conversando com o baixinho, mas a gente ouvia e entendia tudo que elas falavam. Quando a funerária chegou com o corpo já dentro do caixão, ao entrar na sala, uma das filhas ao ver o caixão soltou um grito tão alto e de surpresa que todo mundo assustou e alguém sem querer, deu uma cabeçada no interruptor de luz que causou um curto circuito e apagou a luz da casa toda. Na escuridão, foi preciso arrumar muitas velas, lampiões e lamparinas, naquela época isso ainda era muito usado. De repente outra surpresa, ao abrir o caixão, ao ver o corpo, foi outra gritaria, a funerária fez uma confusão e entregou o corpo errado. (Coincidentemente havia morrido dois senhores naquele dia e só tinha uma funerária e enganaram de corpo). Sei que levaram o corpo embora e aí as mães levaram as crianças, pois já era tarde, era quase 20:00 horas e os “meninos tinham que dormir”. (Era assim). O velório transcorreu a noite inteira no escuro e o cortejo sairia as 09h00min horas da manhã em direção ao cemitério para o sepultamento, as mães deixaram os filhos faltarem de aula para ir ao enterro, para “nós” aquilo tudo era muito novo, inédito. Pediram aos meninos que fossem a frente, levando um crucifixo e duas coroas de flores, as pessoas faziam duas filas e saiam em desfile fúnebre ate o cemitério, levando o caixão carregado. Estava acontecendo em ruas de nosso bairro trabalhos de calçamento e algumas estavam com muitos buracos , arrumando rede esgoto, montes de pedras impedindo a passagem e “os meninos” entraram em uma dessas ruas e o cortejo seguindo o trajeto logo atrás, até que em determinado ponto, viu que não tinha como passar, e quase chegando no cemitério, a passagem ficou completamente impedida, haviam muitas mulheres idosas e elas não conseguiriam passar aquelas barreiras e ai todo mundo teve que voltar . Acho que um enterro nunca errou o caminho, mas aconteceu, talvez pela primeira vez. Chegamos no cemitério, uma tristeza por parte dos parentes e amigos, quanto as crianças apontavam um ou outro, buscando o culpado por ter errado o caminho. Nunca se chegou a nenhuma conclusão. Se havia um culpado ou não.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 14/10/2016
Código do texto: T5791710
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