Como era bom

Como era bom, chegava da aula, mais ou menos onze e meia, era o prazo de acabar de almoçar e pedir para a mãe, posso ir na casa da dona Zizi assistir zorro, começa meio dia. Não sei se as mães gostavam muito de deixar, mas elas concordavam e exatamente ao meio dia a casa da vizinha bondosa contava pelo menos umas dez crianças ávidas pelas aventuras do herói mascarado. Depois do filme que durava mais ou menos meia hora, saímos todos para brincar de Zorro é claro. Fazíamos o sorteio para ver quem seria o Zorro e quem seria os outros personagens. Bem nem sempre era zorro, tinha dia que era Tarzan, Bonanza, Durango Kid, viajem ao fundo do mar, Rin tin tin, e o Patrulheiro Rodoviário. Assim era a nossa vida naquela maravilhosa fase de infância. Quando cansávamos de brincar de filme, íamos jogar bola no campinho que ficava no fundo do quintal de umas três casas, não tinha cerca e a gente improvisou os golzinhos e ali jogava bola até escurecer ou até a mãe chamar ou ainda até acontecer uma confusão, discussão e uma briga, que geralmente eram incentivadas por uns e repudiadas por outros. Mas no final todo mundo fazia as pazes e no outro dia a rotina continuava. De manhã, quase todos subíamos juntos o morro que era nossa rua, rumo a nossa escola (Joao Dornas Filho) na esquina da Rua Olegário Maciel com a Coronel lery, ali juntava toda a criançada da região e surgiam os primeiros flertes, olhares maliciosamente infantis, não existia maldade, se a menina aceitasse conversar, pronto todo mundo falava que já estava namorando. Mas só conversava na hora do recreio, depois da aula nem se via mais, mas no outro dia, na hora do recreio, estava lá conversando, bem no limite, onde separava o pátio dos meninos e das meninas, não se misturava, mas tinha um ponto onde aqueles supostos casais conversavam, sob os olhares dos supervisores, inspetores e fiscais de alunos, além das serventes e ajudantes que na hora do recreio ficavam atentos para os alunos não se misturarem. Me lembro um dia que uma menina sorriu para mim, os colegas viram e ajeitaram tudo para que no outro dia pudesse ir no (a gente falava ponto de encontro) conversar com ela. Aquilo gerava uma euforia entre todos os amigos e acho que também entre as meninas. Tinha também dia de exame médico , os meninos primeiro , ficava de short e o médico media a pressão , ouvia os batimentos , deitava a gente em uma maca e apertava a barriga , olhava entre os dedos , as unhas , os olhos e alguns eles já liberaram outros pediam exames, aquilo também gerava burburinho , um falava pro outro , você viu , o fulano não passou no exame médico , vi falar que ele está muito doente , gerava muita fofoca , mas tudo coisa de criança , no outro dia ninguém lembrava mais disso . Na noite de quarta feira também era uma aventura, depois da novela das oito, passava o Incrível Huck, na sua primeira versão, a gente também pedia para assistir, os dias que as mães deixavam, era uma festa só na casa da dona Zizi. Lembro-me que a gente pedia para os amiguinhos pedir para as mães da gente deixar que fossemos, era combinado, eu peço sua mãe para você e você pede a minha. As vezes funcionava. Quando deixavam e a gente ia dormir quase dez horas da noite, elas falavam que ia dormir pouco, que no outro dia não ia aprender nada, criança tem que dormir até oito horas, mas era bom demais. Nas tardes de sábado passava Ultramem, herói japonês que sabia lutar karatê e defendia o planeta terra de monstros intergalácticos, puxa esse era violento, a gente falava que nem o batmam consegui vencer e olha que nessa época, o batmam era muito mais famoso que o supermam. Lembro que as vezes geravam calorosas discussões de quem era mais forte, até que quase no ponto de virar briga, a coisa perdia a graça e ia todo mundo jogar bola. Um dia um dos meninos fez muitos gols em uma partida, ele falou que a mãe dele estava dando para ele mução scott (Óleo de fígado de bacalhau), a criançada achou aquilo o máximo. A gente achava que ele iria virar um super. Herói, toda a criançada falava que ia pedir para a mães comprar para eles. A minha nunca comprou, mas para não perder para os outros, eu dizia que ele comprava. Era um tempo bom demais.

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 03/10/2016
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