O TATU E O CAVALO

O Tatu e o Cavalo

Francamente eu achava que contar “Causos” era uma característica de poucos (muita pretensão minha). Mas na verdade parece que em todo lugar tem sempre um grupinho que se diverte sem o lugar comum imposto pelos meios de comunicação. Dessa vez a notícia vem de Araçoiaba da Serra, através de um Amigo Irmão, “Osvardão” ou então “Cumprido”, homenagem ao sábio Henfil (Pasquim), criador de um personagem seu que era amigo do “Fradin”.

Segundo essa figura (Osvardão), um grupo se reúne na feira aos domingos, ouvem e, se sobrar espaço, podem até contar “Causos”. E foi de lá que veio essa preciosidade que a seguir passo a relatar:

João Virgílio era trabalhador da roça e tinha um bom sítio encravado aqui pelos nossos sertões, na barra do Sapé em Conceição do Monte Alegre, posto avançado da Estrada de Ferro Sorocabana, no início do século passado. Plantava de tudo para sobrevivência e tinha bom pasto onde conviviam boas vaquinhas leiteiras e cavalos para a lida com o gado e puxar carpideira. Quem cuidava da lida na roça mesmo era a filharada. Ele, na verdade, era “capador de porca” e o que mais gostava era pescar no ribeirão do Sapé, água de porte médio para grande. Outro passatempo predileto era a prática da caça. Andava sempre acompanhado de “viadeiros”. Somavam mais de vinte.

Uma ocasião, quando voltava do “patrimonho”, montado num cavalo pedrêz, que fugindo do estabelecido atendia pelo nome de “Baio”, quando viu, em desabalada carreira pela estradinha, um tatu “Peba”, dos grandes. Devia pesar bem mais que uma avantajado leitão. Como todo tatu, não se fez de rogado, tentou entrar num buraco de algum colega seu que estava apenas começado, como obras de prefeituras planejadas pouco antes de eleições. Por motivos de segurança, servia. Era só cavar mais um pouco. E sem perder tempo se meteu na tarefa. João Vergílio, rapidamente pulou do Baio e segurou o fugitivo pelo rabo que era a única coisa que ainda estava de fora. Mas todo mundo sabe que é praticamente impossível arrancar pelo rabo, um tatu do buraco. A Natureza o dotou de um instrumento com funcionamento de fisga e ninguém muda com facilidade sua intenção. Como nosso herói, conheço 3 formas de contrariar as decisões do “Peba”: A primeira é um bom “barde” de água a ser despejado no buraco. A segunda é um enxadão que alarga o buraco e o solitário onívoro não tem ponto de apoio para suas “fisgas”. E a terceira não posso incluir nesse conto porque na segunda feira as professoras lêem meus “Causos” para as crianças da Escola e isso poderia suscitar curiosidade em todos e viriam perguntas difíceis de serem respondidas. A solução, como não podia contar com a cachorrada que havia “levantado um Mateiro” há poucos quilômetros atrás, seria correr em casa e trazer o enxadão, mais fácil de carregar que um balde de água. Mas isso permitiria que o tatu concluísse o objetivo da obra e nunca mais fosse encontrado. Solução de emergência: amarrou o cabo do cabresto do Baio no rabo do apreciador de formigas. Foi bem pensado e foi bem feito. Correu em casa. Dentro de 15 minutos estava de volta. E qual não foi sua surpresa? A única coisa que ainda estava pra fora do buraco era o rabo do Baio. (oldack/19/05/014) XXX

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 30/09/2016
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