O Legitimo Lobisomem

Em uma bela cidade com o nome de Jardim no Mato Grosso do Sul, ao cair à noite, dona Lourdes, esposa de Aurélio preto, como era conhecido, reuniu seus sete filhos e os filhos de toda aquela vizinhança para contar histórias que davam medo! Era de arrepiar, mas tinha lá quem gostava, pois sua grande sala ficava cheia. Uns amarelavam logo no começo, iam saindo de mansinho, sem fazer barulho, era condição que dona Lourdes dava pra quem quisesse participar. Eu, muito medrosa, sentava sempre nos pés de dona Lourdes, minha mãe, imaginando que ao contar aquelas histórias arrepiantes, ela que era uma mulher muito forte, seria capaz de se atracar com a assombração ou mesmo com o lobisomem, o qual morava bem perto dali e se chamava Artur. Segundo minha mãe contava, ele tinha a maldição e virava lobisomem todas as sextas feiras de lua cheia, e na outro dia saia na casa dos vizinhos pedindo sal emprestado para tomar uma salmoura de água morna, que bebia e vomitava toda porcaria que tinha comido, quando estava transformado em lobisomem. Segundo a lenda o lobisomem gosta de atacar galinheiros e comer titica de galinha. Mas pra fazer efeito o sal tinha que ser emprestado. Um dia perguntei a minha mãe como sabia que o seu Artur era o legitimo Lobisomem e ela contou que um dia de sexta feira seu Artur saiu com a esposa para visitar amigos, na volta, quase meia noite, quando eles chegaram perto de uma árvore grande , perto de um bambuzal, seu Artur disse à mulher que ia urinar atrás da arvore e não voltou, de repente sua esposa que estava com o filhinho deles nos braços e ouve um barulho, que a deixou amedrontada o que a fez gritar pelo nome do marido , porém ninguém respondeu. Entretanto só ouvia um urro que parecia vir da direção da árvore grande, onde costumavam dizer que era mal assombrada por ter morrido um menino de sete anos ao cair dela. De repente, apareceu um cachorro preto muito grande , dona Ambrosina se arrepia e começou a gritar, mas não conseguia correr, parecia que seus pés estavam grudados no chão, ela erguia seu bebê o mais que podia, tentando protegê-lo daquele grande cão que urrava feito um lobo e ela sem poder abaixar para pegar uma pedra ou mesmo um pedaço de pau, desenrolou o bebê que estava com um Xale vermelho, que era pra espantar quebranto e mal olhado e também o frio. Ela bateu tanto na cabeça, na cara, nos dentes amarelados do grande cão, que ele foi embora. Passando meia hora o seu Artur apareceu passando mal.

- Sua esposa perguntou: Onde você se meteu Artur?

Ele respondeu: Não disse que ia urinar?

Que demora é essa? Passei grandes apuros com nosso bebê, não ouviu meus gritos?

Ele respondeu: Não, mas gritou por quê?

Ela respondeu: Apareceu um cachorro tão grande que parecia mais com um lobo. Nosso bebê chorava muito, agora dormiu, acho que de tanto susto acabou dormindo.

Deixa mão de ser medrosa mulher a lua está cheia, está bem claro tudo por aqui, Vamos andando rápido, está um pouco tarde e temos que colocar a criança no berço pra ele dormir tranquilo.

E foi apressadamente, ele com passos largos e ela um pouco atrás matutando tudo que tinha acontecido naquela noite, imaginado que nunca tinha visto um cão tão grande. Que parecia mais com o tal de lobisomem que o povo fala. E logo pensou, será que hoje conheci um legitimo lobisomem?

Chegando a casa, foram colocar a criança no berço, o pai sorriu e disse:- Como é lindo nosso filho, mulher! E continuou com o sorriso nos lábios, quando sua esposa viu fiapo do xale do bebê nos vãos do dente de seu Artur. Ela estremeceu ao reconhecer o fio vermelho nos dentes do pai. . Mesmo com muito medo ela dormiu aquela noite na casa com ele, mas pediu para dormir no quarto do filho, alegando que ele poderia acordar assustado por ter ouvido o urro do lobisomem. Ao acordar bem cedo, pegou o filho e desapareceu.

Ninguém mais ouviu falar na mulher de seu Artur. Só soubemos que ela deixou uma carta pra sua comadre, contando todo o ocorrido, mas não revelou pra onde ia. Uns dizem que ela virou andarilha, outros que foi devorada por um lobisomem e outros que ela deve ter morrido de fome e frio com o filho, e que os dois devem estar enterrados no cemitério de uma cidade vizinha chamada, Boqueirão no MS. Disse dona Lourdes:- Só sei que a verdade, ninguém sabe, e nunca vamos saber, porque dona Ambrosina e seu filho desapareceram para sempre. Eu só me lembro disso, E não tenho vontade de lembrar-me de mais nada. Morria de medo quando passava em frente à casa dele. Seu Artur ainda vive e dizem que toda sexta feira de lua cheia ele se transforma em um grande lobo, chamado lobisomem. E agora dona Lourdes já não existe mais, morreu deixando saudades para toda aquela gurizada que ouviam suas historias.