FOGO NO PASTO.
Era uma linda quinta-feira. Noite meio fria, mas o outono já se fora há algumas semanas. As pastagens ainda estavam secas, resultado de geada que caíra há oito dias. Tudo estava seco, principalmente a trilha que dava acesso a um monte de mais ou menos um mil metros de altura. Lugar este, onde era o local predileto para retiro de pessoas para meditarem, orarem, acampar e fugir um pouco da vida urbana.
Tião do Eudoro era uma pessoa muito culta. Gostava muito da leitura, principalmente dos textos bíblicos. Fazia muito comentário nos cultos, nas praças, nos cursos religiosos e pregações onde os padres ou pastores ofereciam-lhe a palavra. Era ele muito admirador da natureza. Promovia passeios a campos, serrados, serras, rios e muitos lugares lindos no círculo daquela cidade. Também pudera. Ele era engenheiro florestal e professor na faculdade.
Nesta mesma quinta-feira, Tião do Eudoro refletiu o quanto a natureza era bela e pensou em fazer uma caminhada ao Monte de Orégano, nome dado ao monte onde eram feitos os passeios. No mesmo instante, ligou para seu amigo o Sr. Júnior, que era pastor de uma igreja e juntamente com outros fiéis e admiradores poderiam fazer o passeio e aproveitarem para uma retirada espiritual, onde fiéis sentiriam paz, tranquilidade e orarem pelas intensões. Momento este que Tião faria uma palestra sobre um tema retirado de um livro bíblico.
- Pastor Júnior, o Senhor gostaria de fazermos uma caminhada ao Monte do Orégano. Lá poderemos orar, meditar e levar conhecimentos para as pessoas que forem.
- Certo, Tião. Aceito. Vou pedir e anunciar a todas as pessoas o dia, o local e a hora onde iremos. Possivelmente, às vinte e duas horas, pois, neste horário, a temperatura estará suave. Fará frio, mas as pessoas irão agasalhadas e ficaremos até o amanhecer.
- Concordo, Pastor. No próximo sábado iremos. Vou pedir para que o Geraldo corte alguns pedaços de bambu para fazermos as tochas. Então, estamos combinados.
Passaram-se os dias até a chegada da partida para o monte.
Às dez horas da noite, expressão popular, reuniram-se próximo ao jardim da praça principal. Eram muitas pessoas. A noite estava fria, mas o vento soprava fracamente e muitos já seguravam as tochas. Vários agasalhos, incluindo cobertores, tocas ninjas e mais apetrechos do frio.
Iniciaram, então, a grande caminhada. Cantavam, oravam, diziam expressões lindas e de ânimo aos participantes.
Quando já estavam quase ao topo do monte, faltavam alguma dezenas de metros, o vento começou a soprar mais forte, mas a caminhada era rápida e eles não sentiam frio, porém uma tremida aqui, outra ali, prosseguiam.
José Álvaro, mais conhecido por José Abelha, era um dos mais velhos do grupo. Tinha mais ou menos uns setenta anos. Era forte, cheio de alegria e não media sacrifícios para ir a qualquer lugar. Devido a sua idade, José Abelha tinha um pouco de dificuldade para caminhar, principalmente à noite. Suas vistas ofuscavam um pouco e Tião pediu para alguém acompanha-lo por mais perto. Desta forma, José Abelha não poderia cair e machucar. A responsabilidade por esta tarefa ficou com a Senhora Alice.
Em um dado momento, deu-se uma rajada de vento muito forte e levantou-se uma pequena poeira da trilha onde eles caminhavam. Por falta de sorte, esta mesma poeira ofuscou os olhos de José Abelha. Meio confuso e querendo esfregar os olhos, encostou sua tocha no cobertor da Maria, a qual estava a sua frente. Não deu outra. Com o vento forte, o fogo da tocha do Abelha aumentou e Maria sem querer e bastante assustada, jogou o cobertor no chão e saiu gritando que o Abelha caiu e pôs fogo em seu cobertor.
Um pouco confusos e andando rápido, Tião e Júnior viram o momento em que o vento soprou mais forte levando as chamas para o campo seco. Lavaredas se espalharam e em pouco tempo o pasto era somente cinzas. Todos correram, menos o Abelha, que de tanto susto travou-se as pernas e teve de ser carregado até um local seguro.
Em questão de minutos, os bombeiros foram acionados e o fogo controlado.