ONDAS DA PAIXÃO - Novela

ONDAS DA PAIXÃO

CAPITULO I – O PRIMEIRO ENCONTRO

A GENTE NUNCA ESQUECE.

Dia amanhecendo em um vilarejo na cidade de Ubatuba. O barulho das ondas do mar acompanhado com o som do latido de um cachorro. Enquanto observamos a bela paisagem, apenas ouvimos um menino narrando, como que se estivesse lendo um livro em voz alta:

( Som de pigarro, preparando-se para a leitura).

“Eu sou um sujeito de sorte, muita sorte! Não tenho um par de asas, não sou nenhum santo, mas já nasci no Paraíso... Ubatuba, terra de gente boa, de peixe com banana verde, de índio tupinambá, de ... de... (suspira) – pausa para respirar. - Agora com voz melodiosa e mais descontraída: - Ah, o que importa mesmo é que ontem bateu o vento leste e isto significa altas ondas. Per-fei-ti-nha cara!” – gargalhada .

Cena I - Menino de 14 anos, cujo apelido é Badéco está no quintal de sua casa, que dá fundo pro mar, passando parafina na prancha. Veste somente uma bermuda colorida e usa no pescoço um colar feito de conchas. Exibe uma “tatuagem de hena” nas costas.

(Som vindo da natureza).

Badéco: Zé Mané, eu nunca vou embora deste lugar... (falando com o cachorro vira-lata.) Nada deste mundo vai me tirar desta vila. (Acomoda a prancha na areia e observa o horizonte). Vou me criar aqui...Vou casar, ter meus filhos, meus netos...Exatamente nesta praia.Você vai ver só! ( brinca com o cachorro). E você que se cuide, bichão.Do jeito que anda vai acabar encalhado!( Cantando) Lero, lero, lerooo! Zé Mané vai ficar pra titio!

Grito saindo de dentro da casa: “Whashingtão”! (Com sotaque).

Badéco (reclamando): Fala baixo...É Badeco, mãe.BA-DE-CO!

Voz grita novamente: Juninho chegou de São Paulo!

Menino de 12 anos vai ao seu encontro usando óculos de grau, corrente grossa de prata, bermudão, camiseta estilo social, tênis branco e meia.

Badéco: Chega aí, Juninho. (Os dois meninos se cumprimentam).

Juninho: Como vai, Badéco?

Badéco: Firmezaa! Chegou quando?

Juninho: Agorinha. Meu pai ta ainda descarregando o carro. Vamos passar o final de semana aqui. (Triste, desvia o olhar). Minha mãe ta doente e a gente veio pra cá pra ver se ela melhora. De repente o ar daqui faz bem pra ela...Tomara! (Suspira olhando pro mar).

Badéco: O que ela tem?

Juninho: Acho que precisa de repouso.

Badéco: Então sua mãe vai gostar da rede que o meu pai ta fazendo. É rede de casal. Dá pra dois “folgadão”!

Badéco continua passando parafina na prancha, mas prestando atenção no amigo.Seu olhar desvia para a varanda de sua casa, onde uma menina de aproximadamente 16 anos aparece tentando fazer uma ligação no celular.

Juninho: É a minha irmã mais velha. Isabela ainda não conhecia Ubatuba. Curte mais o Guarujá. (piscou um olho, rindo). Isabela, vem pra cá.Quero te apresentar meu amigo.

Ela caminha na direção dos dois ainda com o celular na mão.

Isabela: Prazer, Isabela.( Sorriso). Como é mesmo o seu nome?

Mãe grita da varanda: Whashingtãooo! (Com sotaque). Convida seus amigos pra almoçar com a gente. Tem peixe fresco!

Isabela: O seu nome é Whashington?!

Badéco: Por que? (Incomodado com a pergunta).Acha feio? Pois fique sabendo desde já que é o nome de um farmacêutico muito antigo daqui de Ubatuba.Foi um homem inteligente e de bom coração. Cuidava das pessoas doentes e ainda tinha tempo para escrever livros. Não tem ninguém aqui nesta cidade que não fale bem de Seo Filhinho.Conta aí, Juninho.

Juninho: É você que ta contando, Badéco.(Balança a cabeça rindo).

Badéco empolgado: O nome dele era... (Pausa. Ensaiando para falar.Após tentativas, pronuncia bem rápido ). “Whashingtão” de Oliveira (com sotaque), mais conhecido como “Seo Filhinho” da farmácia. Igual eu; sou mais conhecido como Ba-dé-co do surf. Entendeu? É assim que se fala. (Vai até a goiabeira e apanha uma fruta pra comer).

Juninho: (cochicha para Isabela, entre os dentes). Ele detesta este nome porque acha muito difícil a pronuncia.Esquece este assunto! Quase ninguém sabe.É segredo.Chama ele só de Badéco, ouviu?

Isabela: Que babaquice!

Volta pra prancha e fica ajeitando a quilha sem dar atenção a mais ninguém).

Juninho: Altas ondas, Badéco? Pô , que “prancha da Hora”!

Badéco: Essa prancha já tá um cumbú! Pouco velha cara! O meu pai me prometeu uma nova no Natal. Só quero ver, meu.

Juninho: Pô, Badéco. A gente ainda ta no começo do ano, falta um século pro Natal... mas seja perseverante, cara. Papai Noel é gente boa e não vai te deixar na mão. Aliás, surfando num toco! (Risada).

Badéco: Mas tem um detalhe: o meu Papai Noel é pescador e vem de canoa, compreendeu Juninho? Ele precisa vender muito, mas muito peixe pra conseguir atender o meu pedido.

A menina apenas observa a conversa, olhando para um e para o outro, guardando o celular no bolso.

Isabela: Saco! Não consigo fazer esta ligação. Não dá sinal, caramba!(Irritada). Só me faltava ficar isolada do mundo neste lugar!

Badéco : Juninho, consegui um patrocínio, meu.Você não acredita!O pessoal quando me viu dropando a bichona, assim ó, Juninho, assim ó ...( Imitando a manobra na areia).A galera pirou! E eu só no “joelhinho” : “ vuck, vuck, vuck” ( Mexendo os braços e as pernas ).Presta atenção , Juninho. To no joelhinho: “ vuck, vuck, vuck” e a galera gritando “ Ba-dé-co” ! Eu ali; quando olho pra trás , Juninho do céu...um paredão de uns quatro metro.Caraaaa! Quase que eu tomo um caldo.Mas eu fui guerreiro!

Juninho:E quem é o patrocinador, Badéco?

Badéco:Calma aí, Juninho.Você é muito apressado! O patrocínio ta chegando...Só falta assinar os papéis.Ainda não “cruzei” com o cara.Mas ta na mão!

Isabela:Vem cá, você não faz mais nada na vida, não? Só fala em surf!( Apanha o celular novamente, tentando fazer a ligação).Eu, hein! Que estresse!

Badéco: Ta pirada? Não acredito! (Sacode a cabeça). Olha só o lugar onde eu vivo; mais de 70 praias, água pra todo o canto e você acha que eu vou ficar fazendo o quê? Dormindo de touca? Eu tenho o surf na veia! (Risada). Fala pra ela, Juninho.

Juninho: É você que ta falando, Badéco. (Limpa o óculos).

Badéco: Vê se fa-ci-li-ta, né Juninho! Não tenho culpa que a tua irmã é meia zureta e não entende nada de nada.

Juninho: Não esquenta, Badéco. Isabela nunca viu ninguém pegar uma onda de verdade. Ela só sabe pegar a bolsinha pra ir pro shopping. (Ri). O nome dela deveria ser Patrícia. Aliás, Patricinha!

Isabela: “Daarrr”! Que eu saiba surfista também estuda, aprende outras línguas, trabalha... Faz outras coisas na vida, como qualquer um, meu filho.

Badéco: Me poupe, vá! Você fala demais. (Irritado).Surfista não é qualquer um... Ele não é humano. (Já descontraído).Ele faz parte do mar; das ondas, da natureza! Você nunca vai entender! (Olha a menina com desprezo).

Isabela: Nossa, que exagero. Menos, né? (Ri, debochando). Pelo seu jeito já vi que não vai passar de um “surfistinha calhorda”. Surfista profissional também pega um bom livro!

Clima tenso. Badéco cantarola uma música pra disfarçar a irritação. Faz uma careta com a língua nas costas de Isabela, sem que ela perceba.Mexe na prancha, ansioso .

Juninho: - Dá um tempo, Isabela. (Voltando para Badéco). Mostra pra Isabela como é que se faz. Pega uma onda pra ela ver.Vai lá!Só pra ela deixar de ser linguaruda. (Bate nas costas do amigo).

(Isabela e Badéco ficam se observando por instantes.Ela finge que está conversando no celular. Badéco fica sério e limpa a boca suja de goiaba com a mão; estufa o peito, joga o cabelo parafinado ao vento e sai correndo pro mar, com a prancha debaixo do braço) – fundo musical The best UB40 faixa 4- Badéco “pega” uma onda enquanto os dois irmãos o observam da praia.

Para insinuar que o tempo passou, algumas imagens são mostradas: cidade de Ubatuba anoitecendo; a cidade de São Paulo amanhecendo. Badeco jogando taco com a galera. Juninho e Isabela fazendo compras no shopping. Badéco de bicicleta, atrasado pra ir a escola. Isabela e Juninho esperando a Van do colégio. Badéco de mal-humor na sala de aula, olhando ansioso para o relógio.Isabela comendo uma maçã e lendo um livro no intervalo das aulas. Badéco comendo a merenda da escola e paquerando as meninas. Isabela e Juninho chorando. Badéco gritando de alegria e sendo carregado pelos amigos, ao marcar um gol de placa, no campinho da praia. Cidade de Ubatuba amanhecendo. Badéco sai do mar com a prancha debaixo do braço e corre na areia, indo na direção da sua casa. Sua mãe tece um balaio no quintal, sentada embaixo da goiabeira :

Mãe grita: Whashintãooo! Juninho voltou, meu filho.

Juninho aparece com uma mochila de viagem nas costas. Continua mudo e entristecido.

Badéco: Pô cara, você demorou pra aparecer. Mais de três meses! Ta louco, Juninho! Você “viaja” mesmo. Por que demorou tanto assim? Por acaso se casou, é? (Apóia a prancha no canto, cumprimentando o amigo com um abraço saudoso).Tá com esta cara por que? Quê foi? ( Sério)

Juninho: Desta vez a gente veio pra ficar. (Pausa. Voz emocionada): Perdi minha mãe, Badéco. Perdi minha mãe!

Os dois se abraçam mais forte e Juninho soluça no ombro do amigo.Imagens da cidade de Ubatuba com fundo musical.

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CAPÍTULO II : VIDA NOVA

Vamos encontrar Juninho segurando uma caneca de barro cabisbaixo e entristecido sentado na varanda da casa de Badéco, enquanto sua mãe, dona Terezinha, prepara um chá de erva cidreira.

Dona Terezinha: Este chá é pra agasalhar seu coração, meu filho.

Badéco: Eu não sei nem o que falar...(Pede ajuda pra mãe somente com o olhar. Ela faz sinal pra que não se preocupasse com isto).

Dona Terezinha: O tempo é o senhor de tudo.Tenha fé!

Badéco: Acho que se eu perdesse minha mãe, morria junto! Credo! Não quero nem pensar nisso. (Bate na madeira da mesa).

Dona Terezinha faz sinal para que ficasse calado.

Juninho: Agora eu tenho que ser forte. O meu pai e a minha irmã precisam de mim. (Choramingando).

Badéco: A sua irmã , deve estar “comendo um doze”, coitada! Do jeito que é fresca, ai, ai, ai! (Sotaque caiçara).

Dona Terezinha: (apanha a maior banana da fruteira, ainda verde, e coloca na mão de Badéco, irritada).Come este banana que você já falou muito por hoje, Seu Badéco.

Ela caminha até Juninho e o abraça pelas costas, lhe servindo. Puxa a cadeira de madeira e senta-se ao seu lado.

Dona Terezinha: Eu sei que não está sendo nada fácil, meu filho. Têm coisas que acontecem na vida que a gente não consegue entender. Mas Deus é pai, não é padrasto. Com o tempo tudo vai se ajeitar. Acredite em mim. Beba o chá, beba! Vai te fazer bem.

Juninho: Meu pai ta arrasado. (Fungando).Perdemos quase tudo com o tratamento de mamãe.O remédio era muito caro! (Enxuga as lágrimas). Da noite pro dia meu pai resolveu vir embora pra cá. Disse que não agüentaria ficar na mesma casa que viveu com ela.Juntou todas as nossas coisas e a mudança chega ainda hoje.(Pausa). Até a casa de São Paulo precisou ser vendida.Agora ó temos esta da vila.É bem mais simples, mas é o que sobrou, Dona Terezinha.

Badéco apenas ouve, mexendo na toalha da mesa com um bambuzinho.

Juninho: Eu não sei de mais nada. Não sei se vai ser bom ou ruim. Por mim tudo bem. Agora Isabela não quer morar nesta cidade de jeito nenhum. (Olha pra Badéco).Ela não vai se acostumar, dona Terezinha. Eu sei disto.O ritmo de Isabela é outro. Tá acostumada a passear com as amigas no Shopping, fazer compras, ir ao cinema...

Dona Terezinha: Meu filho, Ubatuba não é um deserto...Que bobagem! Fala pra ele, Badéco.Na cidade também tem cinema, tem este tal de “shópps”...E te digo mais, a gente não nasce com os amigos a tiracolo.Amigos a gente faz durante a vida.

Ela encara Badéco fazendo sinal com os olhos para que confirmasse.

Badéco: É isto aí. ( sem graça com medo de falar bobagens).

Dona Terezinha: Fala pra ele, Badéco, o quanto você se diverte aqui em Ubatuba.Conta, meu filho.Fala aí do Cais, que você vive pulando com os amigos; dos bailinhos à noite na beira da praia, do jogo de... aquele jogo que vocês ficam gritando feito doido com um taco na mão...

Badéco : Perfeitamente.(Concorda com a cabeça). É como minha mãe mesmo diz.

Dona Terezinha (levanta-se rápido da cadeira, rindo para Juninho): Já sei! Badéco vai ser muito útil nesta história. É isto mesmo.Não existe ninguém em Ubatuba que não conheça a farra melhor do que ele.Ah, este daí já nasceu na bagunça.Ele vai apresentar Ubatuba pra vocês.Tudo o que tem de melhor por aqui...Que não é só a praia e a onda, né, Badéco? Tem até aeroporto, menino! Aeroporto! Quem sabe um dia você, sua irmã e Badéco vai dar uma volta de avião.Já pensou? Ah?! Aqui tem pista de skate, biblioteca, escola...As pessoas também trabalham neste lugar e estudam pra ser alguém na vida.Ninguém fica namorando o mar o dia inteiro (olhando pra Badéco com firmeza). Só os alucinados!

Badéco (dá uma risadinha sem graça): Do jeito que a mãe fala, parece até que eu sou um topeira.

Juninho toma o chá, quieto e pensativo.

Dona Terezinha: E tem mais.Badéco vai apresentar Isabela pra turminha da vila.Pras filhas da Dona Jacira, pra Andiara, pra Dinalva, pra Tininha, pra Carlota, pra Dédeca, filha de Olavo da quitanda...Isabela e Badéco vão se dar muito bem.Tenho certeza!

Juninho olha pra Badéco e abaixa a cabeça, disfarçando.

Badéco: (resmunga).Mais esta ainda!

Dona Terezinha: Olha só, eu conheço o meu Badéco!Tem uma lábia! Logo, logo, Isabela vai estar apaixonada por Ubatuba! Ah, se vai! Se bobiar, casa com um pescador e “vira caiçara”.Daquelas que fala cantado! E ela é uma boa menina; bonita, de porte...

Os dois meninos se encaram com ar assustado.

Badéco : Ô! É uma miss, mãe, uma miss.

Dona Terezinha: Quantos anos ela já tem, Juninho?

Juninho: Dezesseis.Mas parece que tem 100 anos. É uma crica.

Dona Terezinha: Olha só, é mais velha que Badéco dois anos. É bom pra ele ter uma amiga um pouco mais, digamos, experiente; moça criada na cidade grande...Quem sabe ela não consegue por um pouco de juízo na cabeça de Badéco.Porque ele, meu filho, só pensa naquilo: surfar. Os livros de Badéco criaram até limo dentro da estante...

Juninho: Xí, o pior é que Isabela é rato de biblioteca.Adora ler! Acho que não vai dar muito certo, dona Terezinha.Badéco é meio...meio relaxado nos estudos!

Badeco : Que mentira! Não acredita em tudo o que a mãe conta, Juninho.( Bravo com a mãe) .Ela adora inventar histórias.Parece até que é “ela o pescador desta casa”. Tenho até raiva, viu!

Rapaz de 17 anos, com boa aparência, entra na cozinha, mexendo nas panelas, nervoso.

Dona Terezinha: Quem ta aí mexendo onde não deve, hein? É um gato do mato?! É uma capivara? Ou é um Bumba-meu-boi? (brinca, piscando para os meninos). Conhece Arthur, meu sobrinho? Vem aqui fora, Arthur.

Artur: Calma aí, tia. To vazado de fome.Não tem comida nesta casa, não? O tio não voltou do mar? Cadê a lula que a senhora prometeu de fazer, hein? (continua na cozinha, abrindo o armário) .Ê pobreza! Só ganhando na loto, hein tia. Quando será? ( brinca).

Badéco: (olhando pra Juninho).Esse cara parece que bebe.Não repara, não. É muito folgado mesmo!E o pior é que a mãe adoraaa ele.É Deus no céu e Artur na terra...

Dona Terezinha: Agenor volta amanhã do mar, meu filho. Vem aqui fora conversar com os meninos.

O rapaz finge não ouvir.Continua mexendo no fogão de dentro da casa, que não é o de lenha.

Artur: (falando alto de dentro da cozinha em tom irônico). Tia, só aqui mesmo em Ubatuba pra acontecer as coisas mais bizarras do mundo.Sabe aquele idiota que tem uma casa no começo da rua da praia? Aquele que não olha na cara de ninguém... que se acha o dono do pedaço? Pois é; ficou viúvo e ta de mudança pra cá. Coitado, ta “perdidinho” da Silva! Duvido que vai se acostumar aqui.Passear em Ubatuba é uma coisa, morar aqui é outra completamente diferente.Só quero ver o bicho pegar! Dizem que é ele um picareta e ainda posa de “delegado”, fiscalizando tudo, meu! (silêncio geral).Com a filha dele dá pra fazer um caldo, mas o moleque é um ridículo. Acho que a senhora se lembra: é aquele amigo do Badéco que aparece vez ou outra só pra filar o rango!

Dona Terezinha: Meu Deus!(voz triste).Desculpa, Juninho.Artur é meio boca dura mesmo.Ê moleque atentado!

Artur : (aparece na varanda e olha para Juninho com ar de deboche)

Pô cara, é você que ta aqui? Que surpresa, garoto! Seja bem vindo.Tenho certeza que vai curtir muito morar aqui na vila.Eu mesmo faço questão em te dar aquela força.

Os três se olham em silêncio.Dona Terezinha vai até o fogão á lenha, também se servindo com uma caneca de chá.

*Depoimento rápido de algum morador da cidade de Ubatuba que perdeu a mãe na adolescência; contando como conseguiu lidar com a situação.

CAPITULO III : O REENCONTRO

Badéco está com seu amigo Nóinho , observando a rua de cima do pé de abricó.

Nóinho: Você viu só quem ta de mala e cuia aqui pro bairro? Juninho “maleta” e a sua irmã “thuthuquinha” .

Badéco: Coitado, a mãe dele morreu.

Nóinho: Deve ter morrido de raiva...O pai dele é muito chato, cara! Cê acredita que só anda “engomadinho” e nunca vai á praia? Eu mesmo nunca vi! Parece um presidente! Celular na não, pastinha embaixo do braço...Ele vai ali na venda do seu Ramiro, que é logo na esquina, de carro só pra não “melecar” o sapato de barro (pausa). O cabelo nem despenteia.Usa um tal de “gumex”. Parece até peruca. Brancooo feito cera! Tinha comércio em São Paulo.Precisou vender tudo, só por causa da mulher.É, agora vai virar pescador! (gargalhada) Daqueles bem tostado do sol! Se jogar óleo na cara dele, vai dar pra dona Terezinha fritar sardinha!

Badéco: Mulher fofoqueira já é feio, homê então, hein Nóinho...

Nóinho: Ah, eu até sei porque você ta defendendo a família real.É porque ta aí, oó ( sinal com o dedo) carne e unha com a irmã dele.É ou não é?

Badéco: Fica quieto, seu “cabeça de bagre”! Tá louco,da sua boca só sai titica de galinha...(admirado, aponta pro começo da rua).Você já foi bom, Nóinho! Você já foi bom! Olha só, é o caminhão da mudança chegando.

Os dois se ajeitam no topo da árvore para enxergar melhor.

Nóinho: Eles estão na casa desde cedo.Tem uma mulher fazendo limpeza.Juninho tava com a irmã no portão, comendo um baita de um lanche. Bem, você deve saber melhor do que eu. É amigo da família! (Dá um soquinho no ombro de Badéco). Ê!Se não for o noivo!

O caminhão começa a ser descarregado.

Homem: ( com um papel na mão, pergunta pra garotada que está empinando pipa): É aqui que mora Sr.Oswaldo?

Sr. Oswaldo : ( sai no portão da casa) :Olá, amigo.Sou eu.

Badéco: Olha lá o tal do computador que Juninho tanto fala...é zerinho! Até brilha. “Mardito”.E não é que ele tem mesmo Internet?! E aquilo ali, hein? O que será que eles carregam dentro daquela caixa de papelão, Nóinho?

Nóinho: Parece um...um ...Meus Deus é um corpo seco, Badéco!É a lenda do corpo seco, meu filho! Ai, ai, ai!(Assusta o amigo chacoalhando suas costas).Deve ser o microondas, seu “seqüelado”.Aposto que você nunca viu um microondas de perto.

Badéco; Presta atenção, seu prego. Você ta falando que Ba-dé-co, o melhor surfista de Ubatuba, nunca viu um...um...micro-ondas.Vai vê que eu até já entubei essa onda, Nóinho.Não dúvido!

Nóinho: ( solta uma gargalhada):Você é uma besta mesmo, Badéco.

A molecada da rua começa a brigar por causa de uma pipa, causando um tumulto no portão dos novos moradores.

Nóinho: Vamo lá, Badéco.Vamos lá pra dar uma força!

Badéco: É a turma do Furdúncio tentando sacanear aquela molecadinha.Só podia ser mesmo! Tenho asco daquele cara, Nóinho.É um titica, um titica!Um dia ele xingou a minha mãe.Ah, não prestou! Deixei o beiço dele pregado no poste.Ficou um mês entocado no sertão do Ubatumirim, só de medo.

Nóinho: Ê! Verdade, Badéco? Furdúncio teve coragem de xingar dona Terezinha? Ingrato, mesmo.Já comeu “pouca” broa de milho da dona Terezinha!Ainda lambia os beiços, pedindo mais. É por isto que virou outra broa! Vamos lá, Badéco.Se você amarelar, vou eu!

Badéco: A briga nem é com a gente.Deixa quieto.

Nóinho: Agora eu quero vingar o acontecido com sua mãe, Badéco.Vai ficar ai trepado o dia inteiro no pé de abricó? “Bóra”!

Os dois pulam no chão, correndo pro meio da briga.O pai de Juninho aparece no quintal, nervoso.

Seu Oswaldo: (gritando) Vamos parar com esta bagunça na minha porta.Vão arrumar o que fazer, molecada.(batendo palmas para espantar o tumulto). Não quero bagunça aqui, hein.Se não vou chamar a polícia.

Isabela: (com o celular na mão) : Só podia ser ele mesmo.Aquele moleque todo descabelado é amigo de Juninho, pai.Mora ali perto da praia.Aposto que foi ele que começou esta quizumba toda!Eu me lembro muito bem da sua cara.(Encarando Badéco com ironia) . “Ô se lembro”!

Seu Oswaldo: O seu irmão arruma cada amigo.Só ele mesmo!(Vira as costas ).Vem pra dentro, Isabela.Me ajuda aqui com o lustre.

Badéco: Você nem sabe o que ta falando, sua louca.

Isabela: E você sabe, garoto? Fala tudo errado!

Badéco lhe mostra um muque, bufando de raiva.

Isabela: Vai lá, vai pegar uma onda na sua “banheirinha” de plástico, seu crianção! Whashingtão! (Imita a voz da mãe de Badéco) Whashingtão!Seu trouxa! Tem coragem de mentir o próprio nome.Fala aí pra todo mundo ouvir como se chama de verdade.Ele tem vergonha, gente.Não sabe nem pronunciar o próprio nome. Vá vá, seu babaca!

Badéco: Nunca fui com a sua cara, sua patricinha de mér...(não termina a frase porque Nóinho tapa a sua boca).

Isabela: Deixa, pode deixar.Nem me abala.Tenha uma boa-tarde, senhor Whashington. (Caminha para o interior da casa, batendo o portão).

A molecada começa a rir perguntando entre eles quem seria este tal “de Whashington”.

Furdúncio: Galera, só pode ser o BA-DÉ-CO! AH, AH, AH!

Todos começam a rir e Badéco está transtornado de raiva, dando bicuda na canela da molecada e sendo retirado pelo amigo.

Badéco: Eu ainda vou meter fogo no celular dela, Nóinho.Vou amarrar esta menina sentada num formigueiro.Ah, se vou. Quero ver ela com a bunda tinindo de tanta formiga saúva.Ou não me chamo...Ou não me chamo...Deixa pra lá, Nóinho!

Badéco dá um murro no pé de abricó, indo embora enquanto Nóinho se junta com a galera, também rindo com eles.

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Já é noite e Artur está no portão da escola “azarando” as meninas que saem na última aula.

Artur: (pergunta para um rapaz que está tomando um refrigerante de latinha, no canto do muro). Cadê o Cebola?

Rapaz: Cabulou as duas últimas aulas.Foi lá pra praia com aquela gatinha da 8ª. B . Se deu bem!

Artur:Pô, que saco! Ele ficou de me emprestar umas revistas, aí.

Rapaz: Só na leitura agora, é? Não sabia que era um cara cultural.

Artur: Claro que não, idiota.É revista especial , brother!Altas gatas!

Rapaz:Ah, mandou bem, cara!

Isabela passa sozinha carregando um fichário.Nem percebe que os dois moços estão mexendo com ela.

Artur: Ô garota, você é nova na vila, não é? Ô, surda!

Isabela: Oi?! Está falando comigo?

Artur: Você não mora naquela casa da rua da praia?

Isabela : Como sabe? Moro, sim.

Artur:Sei tudo sobre você.(Sorriso).Ou melhor:quase tudo. O que uma moça tão bonita veio fazer aqui nesta cidade?Neste fim de mundo, hein? Não me fala que veio pra criar mexilhão! (Gargalhada).Sério, fala aí pra mim...

Isabela: Motivos particulares e alheios a minha vontade, pode ter certeza.Mas se Deus quiser, eu volto logo para onde nunca deveria ter saído: São Paulo.

Artur:Ah, que chique.Então você é da cidade grande? Conta pra mim... Como é morar lá? (pergunta, ajeitando a bicicleta no poste).

Isabela: Bem, é completamente diferente de morar aqui.Pra começar as pessoas não pedalam o tempo TODO.Elas costumam andar de carro, ônibus, metrô...Eu mesmo só ando de bike quando vou ao parque do Ibirapuera com os meus amigos.

Artur: Ahhhh, que madame!

Uma moça se aproxima de Isabela, ajeitando a mochila nas costas.

Artur: Chega mais, Madô .O papo é “cabeça”!

Madô: Oi, você é a menina nova, né? Então veio de Sampa? E você já andou neste tal de metrô?

Isabela: Claro!Muitas vezes.Você nunca saiu deste cidade? Não conhece São Paulo?

Madô: Eu só fui pra lá uma vez na vida.Quando precisei fazer um exame super caro que não tem aqui.Fui de madrugada e voltei no mesmo dia.Maior canseira, cara! Era um hospital enorme ; cheio de prédios; um perto do outro.Aliás, acho que cada prédio já era um hospital.Tinha gente do mundo todo e quase me perdi.Eu, hein nunca mais!

Isabela:Ah, sei.Acho que você ta falando do Hospital das Clínicas.Caramba, é o maior complexo hospitalar da América Latina! Realmente, lá você vai encontrar todas as especialidades médicas e muito mais.São Paulo é uma cidade muito bonita.Vale a pena conhecer: tem o museu do Ipiranga; onde Dom Pedro I morou com a Marquesa de Santos, tem o zoológico, a Avenida Paulista, o MASP, tem o melhor ponto de encontro do Universo: o shopping...(dando risada).Brincadeira! (Séria novamente).

Artur:Caracas! Ou você era um guia turístico em São Paulo ou um motorista de táxi. Conta aí!(Gargalhada).

Outra moça se aproxima fazendo parte da conversa.Logo formam uma rodinha em frente ao portão da escola.Isabela atende ao celular.

Isabela:É o meu pai.Ele já está chegando.Tenho que ir.

Artur: Eu ainda não sei o seu nome...

O carro do pai se aproxima, buzinando.

Seu Oswaldo grita :Isabela ! Vamos.Já é tarde.

Isabela acena pra galera , se despedindo.Dentro do carro os dois conversam.

Seu Oswaldo: Como foi o seu primeiro dia de aula, Em Ubatuba?

Isabela: É muito estranho.Não estou acostuma estudar em escola pública. Ainda á noite, pai! O estudo é meio fraco e o pessoal fica zoando com o professor o tempo todo.Nem consigo prestar atenção na aula.

Pai:Tenha paciência, meu bem. Vou fazer de tudo para colocá-la numa escola particular.( Diminuindo o volume do som do carro). As coisas vão melhorar, Isabela.Nós perdemos quase tudo o que tínhamos com o tratamento de saúde da sua mãe.Só nos restou esta casa em Ubatuba.

Isabela se emociona ao lembrar-se da mãe.Vira o rosto, aumentando o volume do som do carro.Canta alto uma música dos Titãs.

Isabela: (voz de choro) : Tudo bem, Seu Oswaldo.Vou me esforçar para que as coisas melhorem.Todos nós estamos estressados!

Seu Oswaldo: Ubatuba não é o fim do mundo, acredite.Vou ver se consigo arrumar um “bico” e logo estaremos curtindo esta cidade.Eu, você e seu irmão.Ouvi falar que tem até um museu aqui.

Isabela:Não acredito, pai.Sério?

Seu Oswaldo: Um museu caiçara.

Isabela: Bahh! Logo vi que seria um milagre mesmo!

Seu Oswaldo:Sua mãe gostava muito daqui...(suspirou).Antes dela partir me pediu que a trouxesse pra cá . Passamos dias maravilhosos em Ubatuba.Aliás, a nossa lua de mel foi aqui.Precisamente na Praia das Toninhas.Num hotel maravilhoso!Nunca me esquecerei.

Isabela: Não vai me dizer que eu fui feita aqui...Ah, pai.Você nunca me contou esta história, traidor!(Os dois sorriem).

Isabela desce do carro, abrindo o portão para que ele pudesse entrar .

Isabela: Não vi mais aquele amigo de Juninho, o tal de Badéco.Deve estar pegando ondas no Hawaii.

Seu Oswaldo:Ah, está com saudades do moleque? É um baderneiro!

Isabela:Até parece, pai.Ele é um fedelho.Deve ter quase a idade de Juninho.Coitado! É um “babaquinha” metido á surfista.Ninguém merece!

Isabela tranca o portão enquanto o pai admira a natureza.

Seu Oswaldo:Que lugar bonito! Pena que os moradores não sabem valorizar.

Isabela: Entra, pai.Quero um lanchinho.Faz pra mim.

Noite em Ubatuba.Toca o celular de Seu Oswaldo e ele finge não ouvir, disfarçando.

Isabela: Pai, o telefone...

Seu Oswaldo: Ein?! Deixa tocar.Deve ser o Nelsinho querendo saber se ...se já consegui um trabalho .Vá pra dentro.Vá pra dentro!

( Grita, irritado).

Quando a menina está longe, atende o celular.

Seu Oswaldo: (nervoso) .Danielle, dá um tempo! Isabela ta aqui comigo.Depois a gente conversa.EU te ligo, entendeu? (Desliga). Mais esta ainda.Tô perdido!

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Capítulo IV :

Dona Terezinha está descansando na rede da varanda enquanto observa o mar demoradamente.Badéco aparece atrapalhado, procurando no balaio uma roupa limpa para ir á escola.

Dona Terezinha : Tem uma bermuda boa dobrada em cima da sua cama.Acabei de colocar.A comida ta quentinha no fogão de dentro.

Badéco: Não quis fazer no fogão á lenha, mãe?

Dona Terezinha: To meio indisposta hoje.Amanheci com “dor nas junta!” (abaixa os olhos, triste).É uma dor, uma dor...que vem de dentro pra fora e faz um balaio aqui no peito.

Badéco: Sei! O pai ainda não voltou, né mãe? Tá louco,viu..Sai pra pescar e some.Quando chega já ta na hora de voltar! Isto não é vida, mãe.(pausa). Olha pro céu ; o tempo já ta fechando e se não chegar logo vai pegar maior chuva em alto mar...

Dona Terezinha: Badéco, se acalma.Quando é que não chove em Ubatuba, menino? Nem parece que é caiçara, meu filho.

O menino se ajoelha no chão da varanda, querendo conversar.

Badéco: A senhora nunca sentiu vontade de ir morar em outro lugar, mãe? De colocar tudo o que a gente tem dentro de um caminhão e sair sem destino certo? Quem sabe morar em outra cidade que tenha mais terra do que mar? Já pensou nisto, mãe?

Dona Terezinha: Quanta bobagem, Badéco!Eu nasci aqui.

Badéco: Mas não precisa morrer aqui, mãe.

Dona Terezinha: Meu filho, estou até te estranhando.Nem parece o mesmo Badéco de sempre.O que ta acontecendo? Fala pra mim.

Badéco: (olha para o mar, com raiva): Eu sou uma besta, mãe.Sou um nó cego que não consegue atinar direito.Sou muito burro.Nem consigo falar o meu nome direito, como as outras pessoas falam.Não consigo ir bem na escola...Não consigo me dar bem na vida! Eu não quero virar um pescador, feito o pai. ( começa a chorar ).

Dona Terezinha:Você ta muito revoltado, menino.Quem te disse estas bobagens, Badéco? Você vai ser um grande homem, como o seu pai, como o seu tio, como o próprio Seo Filhinho da farmácia...Se pegar firme nos estudos, pode até escrever livro, Badéco.Já pensou, você com o nome pregado na capa de um livro: “Whashingtão” escrito em letras douradas...Que beleza, meu filho.Aí sim eu vou poder morrer feliz e descansar para sempre junto à natureza.

O menino abraça as pernas da mãe e soluça.

Dona Terezinha: Aquiete seu coração, Badéco.

Badéco: Não fala mais isto, mãe.Eu não vivo sem você.

Dona Terezinha: Você não vive longe de Ubatuba, meu filho.Esta terra é abençoada por Deus.Olhe só que lugar lindo, Badéco.Aqui tudo o que se planta dá.O mar dá o peixe fresquinho, meu filho; a lula, a sardinha, o camarão...A banana que você se fortalece pra ir pro surfe é do nosso quintal.A mandioca, a acerola, o limão e até o pé de maracujá que serve pra acalmar os seus nervos...Badéco, esta cidade precisa de gente que “lhe” ame de todo o coração e faça dela um paraíso de verdade onde você, seus filhos e seus netos consigam viver em paz , com saúde e dignidade.

Os dois se abraçam na rede e Dona Terezinha olha novamente para o mar, avistando a canoa de Agenor lá no horizonte.

Dona Terezinha: ( gritos de alegria) Olha lá Agenor voltando, Badéco.É o seu pai trazendo o nosso sustento, filho.Viu, São Pedro protege os pescadores porque sabe que eles vivem da pesca.E Jesus também foi um pescador...de almas, Badéco.

Badéco : ( mistura de choro com riso) E o pai é o melhor de todos.Porque é pescador de camarão, mãe!

Dona Terezinha: Menino atentado mesmo! Só fala bobagem.Ê Badéco. Vá estudar pra vê se bota um pouco das letrinhas nesta tua cabeça vazia.( levanta da rede, cantando.Mexe no fogão á lenha, ajeitando o cabelo ) .Vou fazer uma comidinha diferente pra Agenor.Deve estar com o estômago colado na costela.

Cenário : Sala de aula.A professora escreve no quadro-negro com o giz .Alguns alunos copiam a matéria com atenção, enquanto outros atiram bolinhas de papel no ar.Badéco está com a cabeça apoiado nos cotovelos, olhando para a parede.

Professora: Hoje iremos falar um pouco sobre Ubatuba.Tudo bem?

Badéco: ( resmungando). Que raiva daquela abestada! Ela não vai se acostumar com o lugar. Mas de jeito nenhum!Era muito enojada para morar na vila.Até parece que depois do que aconteceu, ele, Badéco, mostraria a cidade pra ela.Nem morto! Nem que implorasse de joelhos em cima do milho. Hum, dava até vontade de se fingir de bonzinho... pedir desculpas...fazer amizade...convidar prum passeio e depois arrastar aquela “carniça” lá pra costeira da Praia Brava do Camburi.Virar as costas e sair vazado!