45 Andares até a morte
O silêncio da madrugada é tão bonito, tão autêntico, tão convidativo. Enquanto as pessoas dormem, eu continuo aqui, calado, apenas escutando o silêncio.
Espero por algo que não sei o que é. Talvez seja a destruição, as dores, as mortes.
O vento bate em meu rosto, congelando-o, arrepiando-me, ameaçando me derrubar desse prédio.
45 andares. Por ter asma, provavelmente ficarei sem ar ao cair. O vento me dá impulso, como se dissesse freneticamente "vá, não tema, afinal, olha que vista linda". De fato, ver o mundo de cima sempre foi bonito. As nuvens correm rápido, logo irá chover. Pelo menos a chuva levará meu sangue. O vento continua me empurrando, e já não sinto tanta vontade assim de me segurar. Segurei-me demais para continuar a viver, e agora estou oficialmente desistindo. Chega de se segurar tanto a uma vida passageira. Deixar de viver é deixar de sentir dor, e sendo assim eu quero ir.
Levanto-me. Agora estou a um passo do vazio, do medo, da morte. O vento parece mais forte agora. Há um frio na barriga. Ansiedade, comecei a ter na adolescência. Eu era só mais um adolescente achando que a vida era fácil. Outro vento bate contra minhas costas.
E eu ganho impulso.
E eu olho pra baixo.
E eu estou caindo.
E eu digo:
— Adeus, mundo que destruiu minhas esperanças.