DEIXE DE CABIMENTO

Ai, ai, meu dente, ai, alguém pode me socorrer? Peste de mulher, esparrela caída, despacho de macumba que a sogra do cão enjeitou!

Você me paga condenada, espere só pra ver! Pense de uma veia sovaco de cobra! Pensando eu estar no Paraíso, tou é no céu, no céu da boca de uma raposa, pense!

E pensar que eu, bonito como sou, poderia ter casado com a vovó da Chapeuzinho vermelho, mas não, dei foi de cara com a madrasta da Branca de neve, sempre querendo comer o meu fígado pelas costas. Fui amarrar minha mula na cova do Jararaca! Bem que meu pai dizia: meu filho, não cometa o mesmo erro que eu, não invente de cutucar botija que não tenha mel! Fiz ouvido de jumento, agi como uma mula, imbirrei como um jumento de lote, um jumento de besta e agora tá nós aqui como uma junta de bois.

Mas nem que o diabo toque rabeca eu acredito mais naquela imbirrada do cabelo ninho de xexéu!

Vai pentear macaco, veia! Só porque eu sou um pé rapado, um pobre diabo, um João Ninguém, um Chico tira não precisava de você ter perdido as estribeiras na frente dos meus compadres não!

Ontem fazia um sol danado, acordei cedo, fiz a barba, vesti cueca limpa, mas não tomei banho, fazia frio, água gelada e tava com uma preguiça. Fui pra maré, pesquei umas ubaranas, comprei uma latinha de cana da braba, vim pra casa tomar umas, quando cheguei, na porta, o rasgo de guela maior que o oceano foi logo estrondando:

_ Acabou o gás! Eu disse:

_ Pra você também! Ela espiou assim:

_ Eu quero é fumo!

Na frente dos amigos eu respondi:

_ Daqui a pouco! De rabissaca, olhou assim e mastigou:

_ Trouxe só esse cambão pequeno, murcho e mole?!

Eu já com os cabelos subindo na cabeça gritei: _ É o que temos pra hoje!

Ela atrevida, atravessou a porta e disse:

_ Pois fique aí com seus amigos cu de cana que vou ali, na bodega de cumpade Chibata, hoje quero provar da macaxeira dele, quem já provou, aprovou...

Aquilo me deu um estalo que a chapa veio na língua, voltou rapidamente, desceu goela abaixo, passei a tossir, o satanás sapecou um murro em minhas costas que arriei a chapa pela boca e o bagaço pelo olho de baixo cego de desgosto, enquanto aquele magote de filhos de Zebedeu davam gargalhadas de mim...

Sem saber mais o que dizer, desentalado da chapa, só senti quando o fedor subiu, todos tompavam o nariz, quem ia chegando pensava que era o peixe podre, mas não, era eu todo cagado!

Agora, veia descarada, você volta toda sorridente, eu com dor no único dente que me resta, só podendo dizer: peste de mulher, esparrela caída...

Marcus Vinicius.