Uma pescaria inusitada

Lá na minha cidade, no interior de Goiás quando, naquele tempo, a vida seguia sem pressa, havia um cidadão de nome Salustiano que gostava de contar histórias. Numa roda de bar entre uma pinga e outra, surgiam histórias de pescaria. E ele,como sempre, era o mais solicitado. Atendendo a vários pedidos, contou esta:

No povoado de são José onde nasci, era comum, ao anoitecer, reunir-se um grupo de pessoas para contar causos ou relatar as novida-des do povoado. Numa destas prosas, surgiu a conversa de que um peixe gigante habitava o rio que banhava o povoado. É difícil pescá-lo, disse alguém. O peixe arrebenta todas as linhas, quebra os anzóis por mais resistentes que sejam. Alguns afirmavam que poderia ser uma enorme caranha. Outros, mais exagerados, diziam tratar-se de uma pia-para monstruosa que se escondia no meio das pedras, e só saia à noite. A maioria não acreditava que pudesse existir um peixe tão grande as-sim. Para mim, aquilo não passava de invencionice dos pescadores be-berrões.

Contei essa história para o meu sobrinho Agenor e ela ficou mar-telando sua a cabeça por vários dias, até que ele resolveu pescar o tal peixe. Sem falar com ninguém, separou um dinheiro e comprou todo o material necessário. Um anzol bem grande, uma corda de náilon de tre-zentos metros. E para a isca, levou algumas espigas de milho. E tam-bém uma lanterna.

Já estava escuro quando ele chegou ao rio. Examinou o local, on-de afirmavam morar o peixe gigante. Como isca, botou uma espiga de milho no anzol. Amarrou bem a corda no tronco de uma arvore, e o jo-gou com força. O anzol cruzou o espaço escuro do rio e caiu tão longe que ele não ouviu seu barulho na água.

Uma hora depois, sentiu um puxão, esticando a corda. Segurou-a firme, mas o bicho era muito forte e ele sentiu que não ia conseguir tirá-lo da água. Em seguida, um novo puxão mais forte. A corda esticou tanto que ele pensou que ela fosse arrebentar. Foi aí, que teve a certeza de que o peixe gigante existia mesmo. Todavia, não tinha condições de arrastá-lo sozinho. Voltou ao povoado e pediu ajuda dos amigos. Reuniu umas quinze pessoas. Era o que precisava para tirar o peixe grande do rio.

Quando lá chegaram era mais ou menos meia noite. A corda esta-va esticada. Tentaram, mas, não conseguiram arrastá-lo. O peixe era muito forte. Um dos seus amigos voltou ao povoado e pegou o jipe do pai. Amarraram a corda no veículo e começaram a puxá-lo. Quando o jipe já havia andado uns dez metros, ouviram um forte barulho na água. Era o peixe gigante, se debatendo e fazendo muito barulho. Mesmo assim, foi puxado até o barranco do rio.

Ao focalizarem a lanterna para vê-lo, o espanto foi geral. Para surpresa de todos e decepção geral, não era um peixe. Era uma vaca que esperneava presa no anzol.

Agenor, quando jogou o anzol, pôs tanta força que ele caiu do outro lado do rio. Uma vaca que passava pelo local, encontrou a espiga de milho e acabou fisgada.