O Saci, o pescador e a poção mágica

Só pode ser moleque tirnado, desses que nunca há de chegar de pé junto em lugar nenhum!

Se eu pudesse, se eu pudesse dava era uma rasteira só pra ver se ele pulava de verdade ou de invenção. Vive trepado no telhado da casa, curiando a gente pela fresta da telha ou na cozinha escondido detrás do fogão.

Outro dia inventei de fazer um fogo no quintal para fazer um cozido e um piscar do olho que entrei em casa e voltei, quando mirei assim e olhei nem acreditei no que vi. Quem era? A peste do Saci usando o meu fogo. Eu fui logo dizendo:

- Marche daí, marche moleque danado.

- Calma, vei...

- Vei o que seu coisinha. Trate logo de tirar essa panela do meu fogo.

- E você nem quer saber o que eu tenho pra hoje?!

- Não!

- Mesmo assim eu vou dizer! Essa é uma porção mágica inventada pelo meu tataravô que ensinou ao meu bisavô que ensinou ao meu avô que ensinou ao meu pai e eu aprendi.

- Deixe de me enrolar e vai sumindo do jeito que você chegou...

- Tá bom! É uma porção mágica que fará você voltar a ser jovem, robusto, corado, mas ela não funciona para quem não quer. Fui...

Mas menina, eu me aperriei, fui logo dizendo...

- Saci, sacizinho, meu camarada! Pois você não sabe que você é o meu melhor amigo! Que já mandei minha veia fazer nova carapuça procê! Chegue, homem, venha e me mostre como é!

- Certo. Vou colocar nessa panela cinco bilas e um litro de água e deixar apurar.

Eu acendi o meu cachimbo, esperei um pouco e perguntei:

- Tá pronto?

Ele foi lá, destampou e disse:

- É, o cheiro está bom, mas se tivesse um leitinho de Coco para ficar com o gosto melhor...

Soltei um riso e fui logo dizendo que eu tinha um leite de coco feito naquele instante, fui buscar e ele despejou na panela.

Passou um tempo e perguntei:

-E aí, amigo, ficou bom o caldo mágico com leite de coco?

Ele disse:

- É, ficou, mas meio insosso! Se tivesse um salzinho temperado pra...

-Agora, tenho uma pimentinha com alho e, vou buscar.

Rápido fui, mais rápido voltei! Dei a ele e despejou todo de uma vez na panela.

Olhei pra lua, olhei para o saci e quando ia perguntando, o moleque foi logo dizendo:

- O cheiro está bom, o gosto pra mim também, mas como o senho é pescador, homem do mar, gosta de um fruto do mar, já pensou?! Já pensou uns seis, sete.... Dez camarão aqui dentro...

Olhei para ele assim com os olhos arregalados, mas o danado é danado de nascença...

-Tou dizendo só por dizer! Meu bisavô que também era pescador colocou vinte camarões graúdos e rejuvenesceu vinte anos! Ficou tão novo, mas tão novo que no Congresso anual da Sacizarada, ele foi confundido com o meu pai!

Não contei conversa, tinha um balde de camarão lá na cozinha, peguei, dei ao saci e ele despejou na panela! Mexeu, mexeu e um cheiro bom de camarão no Coco tomou de conta do meu quintal.

O danado vendo já eu com a boca salivada com o cheiro do caldo, destampou a panela, pediu que eu sentisse o cheiro colocando a cara no bafo e foi logo gritando milagre, milagre, milagre...

Eu não entendi nada, fiquei atordoado e ele cheio de molequice foi logo me mandando ir lá dentro de casa me olhar no espelho! Fui num pé e voltei no outro! Mas quando cheguei, para minha decepção, o canto mais limpo! O danado sumiu sem deixar rastro. Levou meu leite de coco, meus camarões, meu tempero e gastou toda a lenha do meu fogo. Fiquei na solidão da noite espiando no espelho minha cara de tacho...

Quando penso que não, de cima da mangueira, as cinco bilas são jogadas nos meus pés e uma voz dizendo: Pra você fazer com outro besta!

Mais novo num fiquei não, mas fiquei mais esperto!

Fui enganado, não nego, mas quem nunca caiu em conversa de moleque esperto?

Marcus Vinicius