O QUE OS OLHOS NÃO VEEM...
o coração não sente.
Tio Valério ainda era bem jovem, não devia ter mais que dezoito anos, quando começou a perder a visão. Seus pais procuraram os melhores especialistas em seu Estado, mas a ciência ainda não havia evoluído o suficiente para curá-lo. A doença principiou praticamente sem sintomas, insidiosa e desconhecida. Quando a vista começou a faltar é que se percebeu o quanto a moléstia já evoluíra, a ponto de não ter mais como fazê-la regredir.
Ele era um rapaz inteligente, que gostava muito de estudar e de ler, mas agora ficava longas horas quieto, olhando o vazio. Uma tristeza e uma melancolia profundas iam minando seu ânimo.
Certo dia, alguém de casa lhe deu uma rapadura para comer e ele ficou longo tempo chupando o açúcar, até que perguntou:
“O que há nesta rapadura que estou chupando há algum tempo e não dissolve?”
Mamãe, sua sobrinha, que mal tinha entrado na adolescência, foi ver o que se passava e percebeu que no meio da rapadura havia um besouro.
Ficou tremendamente enojada, mas um agudo sentimento de pena a invadiu e ela lhe disse:
“Tio Valério, é só uma pequena pedra, talvez do próprio açúcar. Dê-me aqui que vou jogá-la fora.”
Foi um episódio que a marcou profundamente. Ali aprendeu que, em algumas circunstâncias, a compaixão pode se sobrepor à verdade.
Muitos anos mais tarde ela me contou esse fato, do qual jamais esqueci.
o coração não sente.
Tio Valério ainda era bem jovem, não devia ter mais que dezoito anos, quando começou a perder a visão. Seus pais procuraram os melhores especialistas em seu Estado, mas a ciência ainda não havia evoluído o suficiente para curá-lo. A doença principiou praticamente sem sintomas, insidiosa e desconhecida. Quando a vista começou a faltar é que se percebeu o quanto a moléstia já evoluíra, a ponto de não ter mais como fazê-la regredir.
Ele era um rapaz inteligente, que gostava muito de estudar e de ler, mas agora ficava longas horas quieto, olhando o vazio. Uma tristeza e uma melancolia profundas iam minando seu ânimo.
Certo dia, alguém de casa lhe deu uma rapadura para comer e ele ficou longo tempo chupando o açúcar, até que perguntou:
“O que há nesta rapadura que estou chupando há algum tempo e não dissolve?”
Mamãe, sua sobrinha, que mal tinha entrado na adolescência, foi ver o que se passava e percebeu que no meio da rapadura havia um besouro.
Ficou tremendamente enojada, mas um agudo sentimento de pena a invadiu e ela lhe disse:
“Tio Valério, é só uma pequena pedra, talvez do próprio açúcar. Dê-me aqui que vou jogá-la fora.”
Foi um episódio que a marcou profundamente. Ali aprendeu que, em algumas circunstâncias, a compaixão pode se sobrepor à verdade.
Muitos anos mais tarde ela me contou esse fato, do qual jamais esqueci.