O CAIPIRA DO AVESO NA NOITE DE SÃO JOAÕ
Festejar o dia de são João com fogueira, quadrilha, pau de sebo, quentão, e comidas típicos é uma tradição em nossa terra. Uma demonstração de fé mantida por várias famílias no Vale do Picão. Um simbolismo folclórico que une os habitantes numa calorosa confraternização a beira de uma fogueira. Um entretenimento sadio mantido pela tradição.
A dança de quadrilha, o tradicional casamento na roça, pular a fogueira, foram brincadeiras indispensáveis nas quermesses do passado. Existem até varias afirmações que a meia noite em ponto aquele que cuja sua fé em São João é verdadeira, caminha descalço sobre as brazas incandescentes da fogueira sem se queimar.
Embora eu tenha ouvido da boca de muitos, durante meus 74 anos de vida, nunca presenciei tal aventura. Não passa de um mito criado pelo sertanejo. Em fim o ponto forte da tradição, são os festejos, com sua bela demonstração de fé e calor humano.
Ultimamente a verdadeira tradição está perdendo seu espaço e ficando apenas nas lembranças. Com o avanço técnico e a modernidade atual, a caixa de som substituiu a sanfoninha de oito de baixos, a pipoca, o pé de moleque, a broa de milho e as demais quitandas assadas no forno de barro sobre folhas de bananeira deram lugar ao churrasco. A cerveja substituiu o quentão, e assim por diante. Até o sotaque gostoso do linguajar caipira marcando a quadrilha se perdeu no tempo. As quermesses com sabor de juventude ficaram no passado sepultado pela saudade, e a tecnologia vai engolindo tudo e o calor humano desaparecendo. Esforços para manter a tradição são poucos, e os que ainda restam, em sua maioria têm fins comerciais.
No dia de São João próximo passado, me apareceu o Pedro arroz, mais bêbado do que um gambá, afirmado ser o homem mais bonito do bairro Belo Vista, aqui no Engenho, alguém o indagou:
---Oh pedo arrois ocê já oiô no Ispêio hoje?
-- Oiêi não sô, o Ispêio La de casa no dia de são João fica do lado azavesso vai trapaiá ieu!
Ieu num posso fica feio não, mode ieu passa discarso nas brazas da fuguera hoje meia noite, no arraiá do Bibi!
-- Qui arraiá do Bibi pedo donde cocê tirô esse arraiá?
--Intão cê num sabe o Bibi vai inaugurá o bar dele, cum arraiá de são João, cêis aí tão tudo cunvidado, mode vê ieu caminhá inrriba das brazas!
--Cê vai é virá cinza, morrê icindiado, quesse tanto de cachaça pedo!
-- Morro não sô, ieu tem fé in são João, El num dexa ieu quemá não!
No dia seguinte me aparece o Pedro novamente.
E aí Pedro como foi lá no arraiá do Bibi-, caminhou nas brazas?
-Nada sô La num teve reza, sem reza a gente num pode caminhá não, o quel quiria memo era ganhá uns cobre, nera nada de reza pro são João coisa ninhuma. Mais sô cê quizé ieu vô canta ua musga de reis procê, ieu num sô só bunito não. Ieu canto bunito tamem!
-- Não pelo amor de Deus...
Não estraga meu dia, faz isso comigo não sõ !
( Imagem Googlo)
Festejar o dia de são João com fogueira, quadrilha, pau de sebo, quentão, e comidas típicos é uma tradição em nossa terra. Uma demonstração de fé mantida por várias famílias no Vale do Picão. Um simbolismo folclórico que une os habitantes numa calorosa confraternização a beira de uma fogueira. Um entretenimento sadio mantido pela tradição.
A dança de quadrilha, o tradicional casamento na roça, pular a fogueira, foram brincadeiras indispensáveis nas quermesses do passado. Existem até varias afirmações que a meia noite em ponto aquele que cuja sua fé em São João é verdadeira, caminha descalço sobre as brazas incandescentes da fogueira sem se queimar.
Embora eu tenha ouvido da boca de muitos, durante meus 74 anos de vida, nunca presenciei tal aventura. Não passa de um mito criado pelo sertanejo. Em fim o ponto forte da tradição, são os festejos, com sua bela demonstração de fé e calor humano.
Ultimamente a verdadeira tradição está perdendo seu espaço e ficando apenas nas lembranças. Com o avanço técnico e a modernidade atual, a caixa de som substituiu a sanfoninha de oito de baixos, a pipoca, o pé de moleque, a broa de milho e as demais quitandas assadas no forno de barro sobre folhas de bananeira deram lugar ao churrasco. A cerveja substituiu o quentão, e assim por diante. Até o sotaque gostoso do linguajar caipira marcando a quadrilha se perdeu no tempo. As quermesses com sabor de juventude ficaram no passado sepultado pela saudade, e a tecnologia vai engolindo tudo e o calor humano desaparecendo. Esforços para manter a tradição são poucos, e os que ainda restam, em sua maioria têm fins comerciais.
No dia de São João próximo passado, me apareceu o Pedro arroz, mais bêbado do que um gambá, afirmado ser o homem mais bonito do bairro Belo Vista, aqui no Engenho, alguém o indagou:
---Oh pedo arrois ocê já oiô no Ispêio hoje?
-- Oiêi não sô, o Ispêio La de casa no dia de são João fica do lado azavesso vai trapaiá ieu!
Ieu num posso fica feio não, mode ieu passa discarso nas brazas da fuguera hoje meia noite, no arraiá do Bibi!
-- Qui arraiá do Bibi pedo donde cocê tirô esse arraiá?
--Intão cê num sabe o Bibi vai inaugurá o bar dele, cum arraiá de são João, cêis aí tão tudo cunvidado, mode vê ieu caminhá inrriba das brazas!
--Cê vai é virá cinza, morrê icindiado, quesse tanto de cachaça pedo!
-- Morro não sô, ieu tem fé in são João, El num dexa ieu quemá não!
No dia seguinte me aparece o Pedro novamente.
E aí Pedro como foi lá no arraiá do Bibi-, caminhou nas brazas?
-Nada sô La num teve reza, sem reza a gente num pode caminhá não, o quel quiria memo era ganhá uns cobre, nera nada de reza pro são João coisa ninhuma. Mais sô cê quizé ieu vô canta ua musga de reis procê, ieu num sô só bunito não. Ieu canto bunito tamem!
-- Não pelo amor de Deus...
Não estraga meu dia, faz isso comigo não sõ !
( Imagem Googlo)