RAPADURA É DOCE, MAS É MOLE NÃO!

Meus irmãos e eu fomos criados numa época em que a vida andava devagarzinho sem pressa. Com os métodos de sobrevivência artesanais, sem luxo e sem as modernidades atuais. As ferramentas rudimentares, com as quais lavramos a terra produzindo o sustentam da familia, eram em sua maioria fabricadas a ferro e fogo pelos ferreiros, malhando o ferro incandescente nas bigornas. Os mantimentos eram armazenados nas tulhas feitas de bambu ou caixões de madeira, o arroz para ser consumido teria que ser descascados no pilão através de socaduras manuais, o café idem, aliás, uma mão de obra maior ainda, primeiro para tirar as casas e após seu processo de torrefação, socava de novo para transformar em pó.
A fabricação de rapaduras era outra maratona de trabalho na lida do cotidiano rural. Não sei por que o trabalho de moeção da cana só era realizado em altas madrugadas. Depois de apurado o produto, vinha o processo de empalhamento, com palhas de milho ou embira de bananeira, uma grande mão de obra. O armazenamento que geralmente era um compartimento, ou seja, um girau sobre o fogão de lenha donde elas recebiam todo o vapor e fumaça dos cozimentos efetuados. No decorrer do tempo elas petrificavam endurecidas como as pedras. Talvez dessa situação que surgiu o dito popular aplicado em certas situações, “ a rapadura é doce, mas não é mole não!”
Na minha infância e adolescência os poucos aparelhos de radio existentes, eram de gente rica, a classe media e os pobres não tinham esse privilegio. Quando meu pai conseguiu adquirir o primeiro radia, foi uma festa em nossa casa. Às vezes fico imaginado essa juventude atual vivenciando pelo menos uma semana nas condições a que fomos criados seria um caos uma verdadeira comédia.
Atualmente nas famílias, não em todas, mas na maioria, não se sabe quem da às ordens se os pais ou filhos. No passado o respeito aos mais velhos era um dos conceitos mais importantes da sociedade. Sexo por exemplo era um segredo mantido numa redoma sigilosa, chegava extrapolar os limites da vida humana. Muitos casamentos, aliás, a maioria, a escolha era imposta pelos pais. O pai mandou restava aos filhos apenas obedecer. Digo pais porque na verdade, as mães eram submissas, e o machismo bradava alto na sociedade.
As mulheres foram as que mais sofreram, censuradas, e descriminadas. Uma mulher não poderia andar desacompanhada em hipótese alguma, teria ela que se vestir com modéstia, se portar corretamente em sua postura corporal, em seu mofo de agir e de ser e de pronunciar. De um modo geral a conduta pessoal de qualquer pessoa era medida por suas palavras.
Peguei boa parte dessa conduta cultural que já dava sinais de uma abertura moderna, criei meus filhos no ágio desta transição, bem na divisória que se deu. Ente os pais cautelosos da época do tornozelo coberto e dos namoros vigiados, para época da minissaia, em os pais passaram recomendar aos filhos o uso de preservativo para evitar a gravidez. A mudança teria que ocorrer a mulher conquistar seu espaço, os pais compreenderem que uma filha que perdeu a virgindade continuava sendo sua filha não deveria ser expulsa de casa como tantas foram no passado.
Mas parece que a emenda foi bem pior que o soneto, antes a moça subia virgem vestida de véu e grinalda ao altar para se casar. Aquela que tinha a desventura em perder a virgindade antes do casamento, casava vestida com trajes de viúva ou muitas vezes numa delegacia de policia, o tradicional casamento na marra. Atualmente se ela sobe virgem ao altar é motivo de chacota e taxada como cafona.
Mas é o progresso o verdadeiro manda chuva da situação, consumindo os valores morais acelerando a vida. E nos deixando com impressão que o tempo passa mais rápido que os pilotos de formula um, quando na verdade o tempo continua o mesmo. Nós que estamos vendo coisas do arco da velha como dizia minha saudosa vovó!



IMAGEM GOOGLO


 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 22/06/2016
Reeditado em 22/06/2016
Código do texto: T5674983
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