= Faroeste no Nordeste =
Esse causo ("virídico") aconteceu lá pros lados do nosso amigo Reri Barretto.
Eu não invento nem aumento nenhum ponto.
Só o que sei, do que me venderam, eu conto no meu conto.
Dizem que...
Nem bem deu seis horas da manhã, quando ainda clareava o dia, saiu Severino para sua habitual caçada de calangos e teiús.
Como é sabido, tem dia que é da caça, tem dia que é do caçador.
Aquele dia, positivamente não era do caçador.
Voltou mais cedo pra casa sem um calangozinho sequer.
Chateado, preocupado, sem mistura outra vez.
- O que falo pra minha mulé? - veio pensando.
Ao entrar em casa, seu coração quase sai pela boca e seu sangue entra em ebulição.
Sua cabeça roda a milhão e sua testa lateja.
Encontra na cama em pleno ato, de fato, Raimunda sua esposa e seu compadre Mundico, numa versão sertaneja do famoso Ricardão.
Dá um grito: - Nãooooooooooooo!!!
- Esperava tudo de vocês, menos traição!
Aqui não é o velho oeste, nem faroeste, mas tem chumbo de montão!
E com a espingarda ainda na mão novamente gritou:
- Vai os dois morrê seus fiii du cão!!!
Compadre Mundico correndo feito um raio saltou pela janela.
De nada adiantou. Por sorte não morreu mas levou dois tiros no lombo.
O que o salvou foi fingir estar morto após o tombo.
Raimunda saiu correndo pela porta afora já se imaginando morta.
Três tiros a acertaram em cheio.
Um em cada banda da bunda. O terceiro tiro, bem no meio.
Quem viu disse que ficaram três buracos bem feios.
Hoje, do Mundico Ricardão ninguém sabe, ninguém viu. Sumiu.
Raimunda está bem. Melhor agora que já pode novamente sentar-se e de Mundico novo. Por coincidência o enfermeiro que trocava seus curativos no hospital.
Foi paixão à primeira vista. Desde o primeiro curativo. Fulminante a atração.
Já Severino só lamenta não poder mais, pelo menos por um bom tempo, fazer suas caçadas de calangos e teiús.
E diz pra todos na prisão: - Corno sim! Manso não!
= Roberto Coradini {bp} =
02//06//2016