Um campo de futebol...
Não desistia, continuava com sua admiração ao futebol. sempre jogava nos intervalos da escola e no quintal de terra batida dos seus primos que eram vizinhos de cerca, sempre após suas obrigações diárias atribuídas por sua mãe, jamais poderia participar de um jogo escolar ou mesmo no seu bairro.
Na parte da frente da chácara e da casa de seus pais havia um espaço sem utilidade, onde predominava matos rasteiros e capim gordura. Onde ele teve a ideia de fazer um pequeno campo de futebol, que caberia seis jogadores contra seis. Pediu autorização à sua mãe, alegando que além de fazer o campo deixaria o terreno limpo, sem matos, deixando somente a grama nativa e que seus rimos ajudariam a fazer o campo, e para seu espanto, ela concordou a fazer.
Começou fazer o campo: ele e mais três primos, limparam o terreno, tiraram as pequenas árvores, carpiram o capim gordura, nivelaram o terreno com terra, demarcaram o campo, colocaram as traves de bambu. Estava perfeito, tudo feito em final de semana e nas horas vagas dos afazeres.
Era um pequeno campo de futebol, com traves e todo marcado com tinta de cal, mas faltava a bola, que logo foi resolvido. Fizeram uma faxina na chácara, tanto do garoto, como de seus primos, juntaram garrafas vazias, ferro velho, panela velha de alumínio, fios de cobres e venderam para um sucateiro, assim conseguiram comprar uma bola de couro.
No seu bairro, em uma vila tinha um time de futebol de meninos na faixa de idade dele, assim marcaram um jogo para inaugurar o campo. Sábado, três horas da tarde: cinco jogadores na linha e um goleiro; descalços, mas com uniforme de identificação. Ele emprestou o uniforme de um amigo da escola que também iria jogar, mais os três primos e dois amigos do bairro, todos conhecidos...time pronto... seis jogadores titulares e apenas um reserva.
Chegou o dia! O sábado estava perfeito, ensolarado, antes das três já aglomeravam pessoas em frente à porteira branca da chácara, seu time já estava pronto e uniformizado já há um tempo, todo de vermelho. Entrou o time da vila já pronto com uniforme azul; vinham também parentes, pais dos jogadores, amigos, vizinhos, pois era um jogo inédito, idealizado pelo garoto, que finalmente iria jogar em um campo de futebol, seu campo, adrenalina estava alta, uma grande e impar emoção. As pessoas se acomodavam em volta do campo, que enchia rápido, os times dentro de campo batendo bola, cada um indo para sua posição para inicio da partida. O pai de um jogador era o juiz da partida, com um tempo de 30 por 30 minutos. O clima era pura cordialidade. Nesta época, o que interessava era jogar bola, se divertir, estava quase tudo pronto para o inicio, quando seus pais que assistiam tudo da janela da casa, chamou o garoto, o dono da bola, do campo o idealizador da partida, o jogador, o sonhador. E, na frente de todos, entregou-lhe dois regadores de plantas vazios, ordenando-lhe que fosse regar as plantas, as hortas os canteiros, tudo que fosse preciso ser regado, e normalmente isso era feita à tardinha, quando o sol ia se pondo, a água era do poço, puxado por corda, até fazer tudo já acabara o jogo. Foi um silêncio total, todos esperando a reação do garoto, mas como sempre obediente tirou a camisa e deu a camisa do uniforme para o colega da reserva, pegou os regadores e de cabeça baixa foi fazer o serviço. O jogo começou sem ele, enquanto tirava água do poço para encher os regadores, escutava o apito do juiz e os gritos dos jogadores quando alguém fazia o gol. Ele regou com calma todas as plantas, sem pressa numa mistura de decepção e tristeza proporcionada pelos seus pais e sem entender o porquê daquilo, não desistiu, nunca iria desistir...
Do capítulo "Onde estão as borboletas?" de minha autoria...