FIM DE FESTA

Finalmente, a festa acabara. Finalmente não para Marcos, mas pela circunstância, o bar fechando, as poucas mulheres que ficaram, como dizia Jeremias, primo de Marcos, não davam para o gasto, os amigos mais chegados não aguentaram o rojão. Cambaleando pela rua encasquetada, de uma cidadezinha do interior da Bahia, seguia a caminho de casa.

O som da radiola ia ficando para trás, ao longe ouvia-se burburinhos indecifráveis. Quando notou uma sombra atrás de si, virou-se aos trancos... viu uma mulher vestida de vermelho dos pés à cabeça. Não chegava a ter 30, bonita, o batom seguia o tom da vestimenta. Dizem que as mulheres costumam ficar mais belas depois que o cabra entorna umas, mas dados os descontos do efeito do álcool, era mesmo uma dama a cima da média naquelas redondezas.

Diligente, o libertino pensou que a noite não estivesse de todo perdida. Diminuiu o passo, esperando a beldade aproximar-se. Podendo olhar mais de perto, Marcos percebeu que a mulher não caminhava normalmente, mas flutuava como se fosse um espectro. Logo ele, que nas conversas de lua, sempre desacreditava dos causos de alma penada e dos lobisomens.

O beberrão virou a esquina, depois passou uma viela, alcançando a Rua do Tapa e, a sombra o seguia perspicaz. Acelerou as passadas, olhou para trás, agora assustado, os saltos rubros pareciam não perder a elegância, o charme. Permaneciam altivos, porém morosos.

Destampou à Rua que dava em sua casa, próximo à ladeira do Banco do Brasil. Respirou aliviado, achando que dali para frente não seria possível, a dona com tamanhos saltos o acompanhasse. Para sua surpresa e medo, ela acelerou ainda mais, o que fez com que o bêbado saísse em disparada, avançando de um só pulo a entrada do casebre, arrebentando a tramela da porta frontal. Dormiu. Quando acordou não teve coragem de contar o ocorrido com mais ninguém, nem para Jeremias. Nas noites claras, Marcos continuava durão, dizia que não acreditava em crendices populares e nem em superstições. Mas o certo é que o ex boêmio, nunca mais quis saber de bebedices!

Eladio Carvalho
Enviado por Eladio Carvalho em 11/04/2016
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