Algemas do ódio

Tem certos itens que não foram feitos para brincar. Mas parece que quanto maior o índice de perigo, mais chamam a atenção. Quem não adorava dar tiro nos coleguinhas com armas de bolinha? Sem contar as brincadeiras de agressão física, como o famoso “Hoje não” e “Fusca azul”.

Em uma sala de aula comum, havia um aluno chamado Roberto. Seu pai era militar e ele não tinha outro assunto sem ser tiro, polícia, tiro, ladrão e tiro. A galera fugia dele e ele era um verdadeiro desmancha rodinha e ninguém aguentava mais seus casos de meu pai meu herói. Em um dia pacífico, ele chega à escola com um par de algemas e está lá exibindo para os colegas, louco para tentar prender alguém em uma carteira ou grade da janela. Ele que já era chato por natureza, afastou ainda mais os colegas, com medo de acabar sendo preso nas brincadeiras dele.

Emília, uma garota inocente e sem maldade no coração, dá atenção para Roberto e fica lá ouvindo as histórias dele (do pai dele). Nessas e outras a menina brinca com a algema e quando vê a prende no seu braço. Desesperada, ela pede a chave para Roberto, mas esse vasculha suas coisas e diz que esqueceu. A garota fica lá perambulando pela escola com a algema presa em um dos punhos, morrendo de vergonha e acreditando que Roberto só estava de brincadeira com ela, e que no último horário mostraria a chave e a libertaria.

O problema é que o garoto também estava preocupado. Ele pegara as algemas escondidas do pai, e segundo ele o policial estava de plantão no dia seguinte e daria falta delas, então eles precisavam tirar aquilo do braço da menina com toda urgência. A preocupação na sua cara realmente apresentava que ele não estava mentindo, caso contrário podiam dar um Oscar para ele já de melhor ator.

Eles tentaram de todo jeito e nada. Nisso, para “ajudar”, chega Ricardo e está lá dando opiniões erradas. Numa dessas, ele tenta entender o mecanismo da algema e por um acidente inexplicável acaba prendendo seu braço no outro lado dela. A desgraça estava feita. O casal ficou colado e não sabiam o que fazer. O restante da sala ria, o trio chorava. Não dava para eles assistirem aula assim e os três tiveram que ser levados para a diretoria.

A supervisora xingou eles o bastante. E o pior que o Roberto morava muito longe da escola e ia de ônibus e a Emília era da zona rural e ia embora de moto, então não dava para nenhum deles ir em casa buscar ajuda e voltar. Ficaram lá na escola e tentaram passar óleo de cozinha para tentar lubrificar o braço e ver se a mão escorregava, mas nada! Desesperado, Roberto implorava para a diretora não ligar para o seu pai, pois esse o mataria e ele não queria desapontar a pessoa que ele mais amava no mundo.

Como ele era um bom aluno, era um dos poucos responsáveis que já estudava para passar em um concurso militar, a supervisora acabou cedendo, após a logística de que Emília iria levar Ricardo na sua moto, e os dois iriam até a casa de Roberto pegar a chave e se livrarem daquela maldição. Após serem liberados, a ideia era perfeita, exceto por um problema que passou despercebido: como pilotar uma moto com alguém algemado em você?

Roberto foi para o ponto de ônibus, deus a coordenadas de como chegar à sua casa e disse que já estaria de prontidão com as chaves na mão. Ricardo tentou sentar na garupa de Emília, com muito medo pois a garota não tinha idade para ter carteira, mas como morava longe precisava ir de bis para a escola e eles fizeram um malabarismo para poderem se situar no veículo. Emilia botou sua mão nas costas e o jeito era pilotar usando apenas a mão direita.

Por sorte a garota era habilidosa e conseguiu pilotar até o destino. Mas Ricardo pagou todos os seus pecados. Ele achou que cairia em todas as curvas e sem contar que era difícil para ela passar marcha ou frear, então ela mantinha uma velocidade padrão o tempo todo. Com muito sufoco, Roberto já estava na porta da sua casa, com as chaves em mãos, morrendo de medo do pai desconfiar. Ele libertou os amigos, que ficaram muito nervosos com ele, pediu imensas desculpas e eles foram embora. Depois disso, Roberto nunca mais botou a mão em nada do pai e acabou desistindo de virar um militar.

Lalinho
Enviado por Lalinho em 14/03/2016
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