Murphy de barro
Um erro não gosta de vir sozinho. O efeito dominó é algo impressionante quando vem para desgraçar sua vida. E foi da pior maneira que os personagens dessa estória descobriram que ideia errada às vezes tráz graves consequencias.
Era uma sexta-feira de carnaval, mas não havia nada para fazer na cidade das Areias Brancas. A maioria do grupo iria fazer alguma coisa diferente no feriado. Alguns iam para a roça, outros para cidades vizinhas e devido a isso resolveram se encontrar na sexta e tentar aproveitar a noite. Não havia ninguém na rua além deles e eles ficaram bebendo na rodoviária por um bom tempo. Até que todos os quiosques se fecharam e eles decidem que ainda não era hora de encerrar a noite, pois realmente não era nem onze horas.
Sem opção, eles vão para a praça. Dois amigos vão a pé enquanto o restante vai de moto. Breno e Caju vão andando e quando estavam perto da praça encontram um casal de namorados (Daniel e Lorena) com uma amiga (anônima). Eles começam a conversar com eles e os dois indicam que tem uma galera lá no vale bebendo. Eles nem conheciam direito os indivíduos, entretanto decidiram no ardor do momento que queriam ir.
O vale era um condomínio afastado um pouco da cidade onde a galera ia para ouvir som alto, beber e fazer outras coisas lá. Eles entram no carro e partem para lá em busca de diversão, abandonando o restante dos seus amigos.
Ao chegarem ao local, deram uma volta pelos quarteirões e não avistaram uma alma viva. Com muito custo tentaram ligar para uma amiga que eles conheciam e ela explicou que eles estavam em outro vale, em outro canto da cidade. O grupo decide que vai até o encontro deles então e entram no carro. Com muito custo eles acham a estrada e começam a adentrar por ela. Só que havia chovido nos dias anteriores e havia muito barro no caminho. O grupo prosseguiu e Daniel, o dono do carro, começou a ficar nervoso achando longe demais com medo de ficar perdido. Ele passa por uma grande poça de barro com água e quase atola o carro. O jovem começou a ficar nervoso, falando que seu pai o mataria quando voltasse com o carro sujo, então o grupo decidiu voltar, achar um jeito de lavar o carro e finalizar aquela noite. Nesse ponto a história teria um final feliz, mas a linha do tempo foi bem oposta.
Daniel já estava xingando com raiva querendo voltar e quando vê, Breno e a anônima estavam se pegando no banco de trás do carro,como se toda a desgraça que estava acontecendo fosse insignificante. Com muita raiva, ele dá meia volta no carro na primeira porteira que encontra e tenta voltar. Ele estava com medo de passar novamente na poça de barro, e eis que Breno dá uma brilhante ideia:
- Por que você não passa pela grama lateral da estrada, assim você evita a barrela.
Todos do carro concordaram com a ideia e quando Daniel faz o contorno o grupo só ouve o barulho do carro afundando em algo. Após o leve baque, eles saem do carro e notam que o “mato” já era um brejo muito pior que a poça que estava na estrada. E agora, uma das rodas dianteiras do carro estava atolada completamente em um buraco que não foi possível ser visualizado por causa da grama. Daniel já começa entrar em pânico e Breno e Caju tentam empurrar. A roda traseira, ao ser acelerada, lança uma chuva de barro nos dois amigos e eles ficam extremamente imundos. Agora não tinha como eles entrarem no carro mesmo que o retirassem, pois sujariam todo o estofado.
Daniel só queria morrer. Ninguém sabia ao certo o que diabos eles queriam fazer nesse vale e já haviam decidido voltar, mas agora já era. Sem contar que ele havia pego o carro sem a permissão do pai, então já estava preparado para uma surra. Ninguém tinha um telefone de um guincho ou socorro e a galera começou a se desesperar. O sinal de celular também estava oscilando e ninguém tinha créditos no I-Phone para fazer uma ligação para alguém que estivesse na cidade e pedir ajuda. Com muito custo, eles conseguem fazer contato com o pessoal que estava no vale e eles muito generosos prometem ajudar.
Após uns 40 minutos, chega um grupo com uns 4 ou 5 rapazes e eles ajudam a empurrar o carro, mas sem sucesso. Tentam pegar bambu, tábuas e tirar a roda, mas nada. Eles prometem que se conseguirem chegar à cidade e achar um número de guincho, vão passar para nós. Depois de mais de uma hora, uma chuva enorme começa a cair. O que é um peido para quem já está cagado? O grupo fica parado tomando chuva e nenhuma alma viva aparece pela rodovia a quem possam pedir socorro.
Após mais um longo tempo, Lorena recebe uma mensagem no seu celular informando um telefone de um guincho. Eles tentam desesperadamente ligar a cobrar várias e várias vezes, até que o cara atende. Ao ser informado da situação, ele diz que vai ao resgate do povo. Satisfeitos, o grupo comemora e já começa a traçar a desculpa que usarão para o pai de Daniel, mas o tempo passa e nada do caminhão. Nada, nada, nada... Breno e Caju tentam andar um pouco na estrada para ver se avistam o resgate, mas eles estavam a uns 4 quilômetros de distancia da civilização. Depois de muito esperar, eles conseguem ligar novamente para o guincho, e o motorista, muito mal educado, diz que foi até a entrada do local e voltou, que o barro estava demais e que entrar ali naquela estrada era pedir para atolar.
Os amigos ficam extremamente desesperados e com raiva do motorista do guincho. Ele não podia fazer isso, ele deveria ao menos ter ligado avisando que não iria mais. As horas já corriam soltas e numa última tentativa, Breno e Caju decidiram que iriam voltar a pé até a cidade, achacariam um telefone publico, ligariam para algum lugar e conseguiriam o telefone de um outro guincho. Pois ali naquela situação não havia nada que pudessem fazer.
Os dois saem caminhando na chuva, atolados até o limite. Numa hora Caju acredita visualizar uma outra trilha e segue em direção a ela, mas capota num barranco e se espatifa lá em baixo. Como se não bastasse estar todo sujo de barro, ele precisava machucar um pouco para fazer dessa noite melhor. Breno começa a rir e ajuda o amigo e os dois continuam. Mas a frente, Caju cai novamente, mas dessa vez em um vão de um mata-burro. Ele atola até a altura do peito e custou a sair. Ao botar a mão no bolso, viu que seu celular e sua carteira já eram. Ele estava extremamente desesperado e continuou por mais um longo tempo.
O sol já estava nascendo, mas a chuva não cessava. Após quase uma hora de caminhada, eles voltam para a civilização. Eles procuram um orelhão, outro, outro... nenhum deles funcionava. Todos vandalizados, sem o gancho, ou com as teclas afundadas, ou incinerados... ao avistar o quarto, eles conseguem ligar a cobrar para a casa de Caju.
Ele já havia imaginado uma possível solução. Pediria o pai, que é taxista, para encontrar o telefone de um guincho e após isso eles tentariam voltar e resgatar os dois amigos.
O telefone toca, cerca de 5h30 da manhã, e com voz sonolenta a mãe de Caju atende:
- Alô mãe? O meu pai ta ae?
- Tá. Por quê?
- Chama ele pra mim, eu preciso dele... tuuuuummmm
E a ligação cai.
Pronto. Agora a mãe de Caju daria um ataque cardíaco. Ela tentaria ligar de volta para ele e não conseguiria falar com o filho. E se ele acionou o pai numa hora daquelas, só podia ser emergência. Ele tentou ligar mais várias vezes, porém o telefone não dava sinal. Tentou limpar o barro do seu celular e tentar ligar, mas a bateria já tinha acabado e o telefone de Breno não dava sinal de maneira alguma. Sem opção, o grupo ficou dividido entre voltar para fazer pelo menos companhia no leito de morte para Daniel e Lorena, ou irem para a casa de Breno tentar achar mais uma solução.
Sentindo-se traidores, mas sem nada que pudessem fazer, foram para a casa de Breno. Após mais de meia hora de caminhada, o povo já estava saindo para comprar pão e os dois imundos andando pela rua, causando curiosidade e espanto pelas ruas. Eles chegaram na casa de Breno e a mãe dele ficou espantada com a situação dos dois. Rapidamente mandou que eles fossem para o banheiro da laje tomar um banho quente e fez uma canja pelando para tentar salvar o pulmão dos dois. O estado que o banheiro ficou é inexplicável. Caju ficou muito sem graça por ter feito aquele chiqueiro na casa do amigo e atrapalhar o sono da mãe dele que começou a cuidar de dois marmanjões sujos de barro, mas infelizmente ele precisava daquilo. Já era uma questão de caridade.
Após se banhar e vestir roupas do pai de Breno, Caju tentou ligar para sua casa, mas pelo visto TODOS os telefones da cidade estavam sem sinal. Era desgraça demais para um dia só. Eles não conseguiam parar de imaginar a situação que Daniel, Lorena e a anônima, ex-paixão de Breno, estavam, visto que não tinham nem como eles ligarem para alguém os socorrerem e a preocupação fez a cabeça dos dois doer. Sem esperança, eles dormiram, até esperar o sinal voltar. Caju ainda tinha que se preocupar com sua mãe, que devia estar morrendo de preocupação. Por volta das 9 horas, o telefone de Caju tocou, indicando que o sinal voltara, e ele conseguiu falar com sua mãe. Ele explicou a situação, omitindo 80% dela, mas disse que estava bem. Ela falou que não dormiu e ficou no telefone o tempo inteiro esperando o sinal voltar.
Foi embora de ônibus para sua casa e de lá ficou tentando falar com Daniel, já com o número de telefone de uns quatro guinchos na mão. Daniel não atendia e Caju, exausto por todo aquele dia, capotou na cama, concluindo que seu amigo havia morrido e ele era o culpado.
Só por volta das seis da tarde que Daniel deu um sinal de vida, dizendo que conseguiu ligar para seu pai e que ele com muita raiva arrumou um caminhão de um amigo emprestado e conseguiu guinchar o carro, que teve que ir para o conserto e lava jato. Daniel andou a pé por um três anos, até conseguir comprar um carro só para ele e Caju e Breno até hoje pedem desculpa para o rapaz, todas as vezes que o vêem, apesar de terem sofrido muito e desejarem que aquela noite nunca tivesse acontecido.