QUESTÃO DE FÉ


          Certo dia, no tempo em que fazia faculdade, o que era raro naquele tempo, eu estava com alguns colegas de trabalho numa rodada de cerveja, pós-expediente, quando um deles se despediu para ir embora e eu inadvertidamente disse: “Vai com Deus Fulano” .
          Ele se voltou e interpelou-me: “Uai Pedrosa, me admira muito você, um acadêmico, com toda essa cultura, ainda acreditar em Deus?”
          Pego de surpresa, pois não sabia de seu ceticismo religioso, a resposta demorou-me um pouco, mas veio a tempo: “Olha Fulano, eu acho que a fé não é questão de cultura, mas sim de sabedoria. E é justamente essa “minha cultura” que me dá a sabedoria necessária para acreditar em Deus.
          Nisso, outro colega muito brincalhão, ponderou em tom de gozação: “Chamou de burro!”
          E o Fulano, meio sem graça, em desabafo: “Eu não acredito mesmo e pronto, quem quiser acreditar que acredite”.
          Ainda com um riso de gozação o colega falou de novo: “Aceitou o cabresto!”
          O Fulano, então, retirou-se sem mais contendas em meio às gargalhadas dos demais e o colega gozador olhou pra mim sorridente e concluiu: “Ainda bem que não empacou!”