Era bacia uma atrás da outra. Olhavam e diziam: - Que vida !
Depois que a comunidade inteira comprou máquina de lavar, continuaram: - Que vida!
           Ela nada dizia, apenas agradecia por ter força para trabalhar.




Ri muito, por dentro, ao ver o sete e meio em dez. Respondi às cinco perguntas consciente de que fui incapaz de entender até mesmo o que se perguntava. Uns disseram que fui inteligente. Ouvi que fui esperta, desonesta, infantil, ousada, sortuda. Disseram até que nosso cérebro tem segredos imperscrutáveis. Aliás, esta seria minha linha de auto-defesa, caso o Professor Meritíssimo M... (não vem ao caso)   me chamasse para explicações cara-a-cara. Difícil rotular. Só sei que queria era livrar-me do curso feito sem nenhum objetivo. Foi difícil vencer mais essa  - com tantas batalhas me pregando peças.
                 Quanto à nota, acho que o professor achou que foi ele o incapaz de entender  o que eu respondia, naqueles textos tão bem estruturados. Eu era uma das alunas mais velhas da classe, provavelmente uma das mais burrinhas, mas escrever escrevia bem. Guardei essas duas páginas até há bem pouco tempo: um enigma que me provocava boas risadas.

A mãe tinha tudo para ser uma mulher grosseira, mas era fina  nos modos, finíssima no trato com as pessoas. Ensinou à filha a recolher os talheres da mesa, e lá se foi a garota fazer o serviço para logo a seguir oferecer a sobremesa. Com cuidado extremo, foi deslizando os braços infantis entre os comensais, suave e imperceptível. Tudo seguia-se bem até ouvir do ilustre convidado: -  Devolve-me o prato para eu terminar a refeição?
- Nunca mais foi preciso a mãe repetir-lhe a lição: com licença, posso recolher o prato?


 

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 26/01/2016
Reeditado em 13/06/2024
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