PERU DE ANO NOVO
Era o dia 31 de dezembro. Juninho, grande aventureiro, boiadeiro, fazendeiro e tocador de violão nas horas vagas, chegou em sua casa e um pouco triste, pelo motivo de não ter conseguido comprar um peru para assar na passagem do ano. Triste assim permaneceu, quando sua esposa Maria, funcionária pública, muito dedicada, uma ótima mãe, maravilhosa esposa, um presente de Deus para o Juninho, aproximou-se dele e disse:
- Querido, porque está tão triste, até o nosso Juninho, lá na cozinha, me falou que você estava chorando. Qual é este motivo, porque sou sua esposa e deste que nos conhecemos, compartilhamos todos os nossos problemas. Olhe que sempre ajudo-lhe a resolvê-los, sejam eles sentimentais, familiares, financeiros e outros que aparecem. Conte-me, sem lágrimas, mas seja verdadeiro como sempre fui consigo.
- Ah, minha querida. Você sempre está do meu lado. Sempre confiei em você e você é a minha conselheira, tanto nas horas tristes quanto as horas alegres. Porém, de uma forma mais clara vou dizer-lhe o que me aborrece.
- Lembre-se, que no ano passado, eu queria comer um peru assado na passagem do ano, porém, não encontrei no mercado. Foi uma venda geral, não sobrou nada.
- Hoje, mais uma vez, repetindo várias outras, voltei ao mercado e não encontrei novamente. Fui até à cidade vizinha, mas sem sucesso. Estou decepcionado, tanto com você, quanto ao Juninho, porque prometi que compraria o peru, você o assaria e comeríamos com arroz, maionese, farofa e chamaríamos sua mãe, seu pai, enfim, sua família. Então poderia tocar meu violão, cantar as modas sertanejas e passarmos um ano maravilhoso, vendo os fogos do terraço.
- Não se preocupe, meu querido, sei que você não fez por menos. Você é honesto e com esta honestidade você vai longe. O Juninho entenderá. Vou preparar um frango, bem gostoso, com muito tempero, com batatas fritas, maionese, farofa e chamar minha família. Meu pai vai trazer a sanfona, o Juninho pegará o trompete e vocês poderão cantar muito, passaremos felizes, como em anos anteriores.
- Maria, mas estou com muita vontade de comer o peru, minha boca esta enchendo de água. Vou até a praça, talvez lá possa descobrir alguém que possua.
- Até daqui a pouco. Um beijo.
Juninho, de costume, foi até a praça. Lá encontrou o Márcio, seu grande amigo e pôs-se a queixar que estava com vontade de comer o peru assado e não encontrava. Já era o terceiro ano que não encontrava o peru.
- Juninho, disse Marcio. O João Volta Trinta, o da fazenda dos Veados, me disse que tem uma perua, que quebrou a perna ontem e está com medo dela morrer. Ele me disse que a vende por qualquer preço. Vamos lá que ele lhe arruma o peru.
Tão feliz, Juninho não pensava outra coisa a não ser chegar em sua casa com a perua. Maria faria do jeito que ele queria.
- Maria, o João Volta Trinta arrumou uma perua que está com a perna quebrada. Estou indo lá buscar. Pode preparar as facas, a farofa, chame sua mãe para ajudar, que nesta noite vamos comer perua assada, tocar violão, sanfona e beber aquela deliciosa limonada que você sabe fazer. Até breve, desligando o celular e indo às pressas à casa do João Volta Trinta.
Muito feliz, Maria ligou para sua mãe, para sua irmã e ficaram aguardando o Juninho chegar para arrumar a perua e os acessórios para a passagem do ano novo. Foi uma festa entre elas, porque a família era muito unida e todos gostavam do Juninho.
Juninho chegou à casa do João e foi logo informando. O João lhe disse:
- Tenho esta perua. A bichinha está com a perna quebrada. Está lá no bambuzal. Tenha cuidado, porque é de ladeira à baixo e você pode cair. Lembro-lhe que tem uma caixa de abelha perto. Tenha cuidado.
- Pode deixar, João, o dinheiro está em cima da mesa. Já estou indo buscá-la. Amanhã você aparece lá em casa para comer um pedaço. A Maria vai fazer com maionese, farofa, etc...
Juninho andou tão rápido que Márcio estava custando para acompanhar. Vendo a perua deitada, Juninho foi para pegá-la, mas como o terreno era de muito declive, Juninho escorregou e caiu, vindo a deslizar ladeira à baixo, encontrando diretamente com a caixa de abelhas, que saíram e começaram a picar Juninho.
Imediatamente, Juninho fora levado ao hospital, com uma perna quebrada, várias picadas de abelha e alguns cortes pelo corpo.
Chateado, no hospital, Juninho recebeu a visita de seu médico, seu cunhado, com as felicitações de um feliz ano novo.
Juntos, no Hospital, Juninho comeu um pedaço do peru assado, mas não feito por Maria, mas pela cozinheira do hospital que na noite de ano novo fazia a farofa e pedaços de peru assado para os pacientes.
Juninho, mais uma vez, não conseguiu realizar seu sonho, que ficará para a próxima passagem de ano.