A fonte de todos os desejos
Brilhante e redonda, foi a primeira a ir, mergulhou na fonte exatamente como uma pedra faria, talvez com mais sutileza e elegância. Refletiu a luz do sol no ar, enquanto usufruía da gravidade. Havia tantas outras lá, ela apenas se misturou, como um grão de areia na praia ou um punhado de grama no campo.
Aquela fonte dos desejos me veio à memória, um pouco antes da aceleração final, a montanha me proporcionava uma vista incrível, o mar rebatendo a água nas rochas, com a mesma violência com que vinha do oceano, o sol brilhava em fúria, chegando a doer os olhos. Me perguntei se eu seria capaz de reparar naquele lindo fim de tarde, se não estivesse na situação atual, a resposta foi "não". Pois a verdade é que não reparamos algo que julgamos comum, porque podemos ver depois, mas esse instante era meu "depois", por isso pude perceber a beleza dos detalhes de um pôr do sol qualquer.
Uma Brasília antiga, amarela e abafada, foi no passado cobiçada, hoje se tornaria minha jaula póstuma. Chaveiro de caveira, Beatles era a trilha sonora, pouca gasolina, o suficiente para dar a partida e andar talvez um km.
Acelerei, o pé estava pressionando firmemente o pedal, os olhos então se fixaram nas nuvens, em uma em particular, mutável e bela, assim como a vida, assim como talvez fora a minha um dia e agora terminava, de forma calculada e fria, acho que ninguém merecia, mas era o que ia acontecer...